domingo, 10 de outubro de 2010

ENTRE TERRITÓRIOS desenho-livro

Entre 20 e 25 de setembro, 2010, participei do XIX Encontro da Anpap - Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas na cidade de Cachoeira - de São Félix - no Recôncavo Baiano. No dia da viagem, saí de casa cedo, peguei um bloco de folhas de desenho e comecei ali a trabalhar uma ideia, a de desenhar todo o percurso da viagem. A qualidade do encontro e emoção vivida nesses dias de viagem envolvidos na observação e no desenho, são alguns traços desse registro que ora apresento.























segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aula de Desenho e a cidade

Quando se fala em ensino de desenho, pensa se logo em sala de aula, ambiente adequado, confortável, algo como uma atividade relaxada, que se faz quando se tem vontade, mas é preciso saber é que tudo depende de investimento, inclusive da vontade, senão o desenho não acontece. Estudar desenho e ouso dizer qualquer matéria não se completa se não vai à rua, à cidade, ao trânsito para sentir o urbano com toda sua problemática e também com toda sua riqueza de imagens. Porque o desenho tem muitos lados se, de um lado ele é íntimo, do outro é público, vale dizer, o trabalho retorna à cidade.

Sair da segurança da sala de aula para desenhar na rua, no confronto com transeuntes, faz parte do aprendizado do desenho que tento ministrar na UFES, seja para alunos calouros, seja para veteranos. Além disso, acrescento outro dado: desenhar e escrever, desenhar e perceber os próprios pensamentos, descrever elementos dos processos, do devaneio criativo; não com um propósito intelectual, mas algo da ordem da poesia, da livre associação e da percepção. Ver, sentir o lugar onde se está perceber todo o momento presente, desde a própria respiração, à temperatura ambiente, os odores, a sonoridade, a tensão da cidade.

Com este pensamento combinei com duas turmas irmos desenhar no centro da cidade, 8:00h. da manhã, em frente ao teatro Carlos Gomes, Praça Costa Pereira. A minha intenção inicial era que cada um fizesse um desenho e um texto descrevendo uma situação vivenciada ali, que cada uma estabelecesse um contato com o local. Mas estava nublado, formando chuva, então dei outra orientação: andarem pela cidade e fazerem entre dois a sete desenhos, conforme a habilidade, e percepção e interesse de cada um. Levei também meu bloco de desenho com intenção de desenhar. Mas ao invés disso, com alguns alunos segui à caça de um templo japonês que disseram haver ali perto. Andamos, subimos ladeiras para descobrir que não se tratava de um templo, mas de uma casa antiga, com traços de um castelo (inclusive é chamada assim), pertencente a uma família de libaneses, a qual é dona da rede de supermercados São José, do centro de convenções e mais não sabe quantas propriedades no município. Diferente da vista de baixo da avenida de onde se via uma torre, da rua de cima, aonde chegamos, a casa praticamente desaparecia atrás de um muro alto. Conseguimos convencer o caseiro a nos deixar entrar, e lá dentro assistimos um espetáculo de ruína: paredes com inúmeras camadas de tintas se descascando, portas e janelas estouradas, fiação emaranhada, parecendo trepadeira, teto desabando - tanto que não nos foi permitido entrar nas salas e quartos - solo esburacado, etc. Um quadro impiedoso da ação do tempo e do abandono. Perguntou-se porque o dono não cuidava daquela casa. O porteiro repetiu a frase do patrão: “pra que investir numa coisa que não dar retorno?” Resmungo geral de indignação. Alguns deram ideia de se fazer ali, um restaurante de luxo, outro de um espaço cultural, eu pensei numa livraria ou num atelier.

Depois continuamos a caminhada morro acima. Escadas e escadas e lá em cima uma bela vista da cidade: a Bahia de Vitória lá embaixo, navios sendo carregados e prédios enormes com suas janelas retangulares parecendo telas de televisão, algumas delas deixando ver o movimento dos moradores. Um dado momento descobri um homem debruçado em uma janela. Que estaria ele fazendo ali? Pensei que estivesse se suicidando. Sorrimos dessa ideia absurda, no entanto possível. Mas porque me veio aquele pensamento ali? Lembrei-me que no dia anterior, conversando com um amigo ele me disse já ter visto dois suicídios quando estudava no Rio. Fiquei com isso na cabeça e também me lembrei que em um país europeu, acho que Suíça, eles têm uma clinica onde podem se suicidar. Isso mesmo, os que querem por fim à vida, vão lá preenchem os protocolos, declaram que querem morrer, acertam todas as coisas necessárias e morrem lá... sem criar transtornos, acidentes, etc. Para quem quiser saber mais, creio que o nome da clinica é Dignitas. Nesta altura da conversa, descobrimos que o sujeito insistentemente inclinado na janela, estava colocando uma antena parabólica na parede (detalhe, foto embaixo).
Continuamos nossa caminhada, alguns se sentaram para desenhar no mirante, outros subiram ainda mais o morro. Conversamos com moradores, chupamos picolé e desenhamos, desenhamos mais com os olhos, do que com lápis, no final o tempo ficou curto.



















quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Curitiba. De uma boa viagem, trazemos imagens, palavras e afetos


Curitiba. De uma boa viagem, trazemos imagens, palavras e afetos. O encontro com uma galerista competente e amiga, Tuca/Galeria Ybakatu, o prazer de expor novamente neste espaço e receber tantos convidados. O contato com o fotógrafo Orlando Azevedo e um presente dele: um livro com suas de fotografias. O encontro com os pintores Dulce Ozinsky, Ricardo Carneiro e os filhos: Ângelo e Pedro ao calor da lareira, sopa de beterraba (receita polonesa), desenhos na tablet e discussão sobre um projeto de exposição coletiva, a se chamar – possivelemente – de “A Pintura e as coisas”. Bate-papo com alunos do curso de artes da UFPR no projeto encontro “Artista na Universidade, coordenado por Tânia Bloomfield. A descoberta do bonito site de arte, levado à frente por jovens estudantes - profissionais de arte e de comunicação (que indico a todos): o http://www.percevejo.art.br/ e o convite de Maurício para realizarmos uma entrevista no terminal Guadalupe, centrão da cidade. E lá travamos uma boa conversa sobre fotografia e o ato fotográfico. O passeio pelas ruas com boas calçadas de Curitiba, uma cidade onde se pode caminhar sem carros estacionados nas calçadas e respirar o espaço da cidade. E algumas fotografias para não dizer que não “falei” de imagens de ônibus urbanos.
Silvia a exposição foi boa e muito bem visitada, creio que que as imagens panorâmicas desses lugares tão comuns na cidade acabaram por tirá-los do lugar comum. Obrigado pelo poema, me fale da oficina e da sua expo. Mauricio, o site de voces é muito bom, continue. Vamos trocar figurinhas. Espero a gravação da entrevista e da apresentação.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

DESLOCAMENTO algumas fotos

As fotografias da série DESLOCAMENTO seguem para exposição em Curitiba, (às partir de 14 de agosto) na Galeria Ybakatu, aproveito o momento para mostrar algumas fotos da série.
Desde a quando morava em Belo Horizonte, época da faculdade, me chamava atenção os ônibus coletivos cheio de passageiros passando para não sei onde. Principalmente à noite, costumava ficar parado na av. Afonso Pena, olhando da calçada, aquela "caixa" iluminada por dentro com suas sombras em movimento. Era os anos 80, e foi quando fiz minhas primeiras fotografias deste tema. Fotografia analogica, preto e branco. Fotografava, revelava e ampliava no laboratório da Escola de Belas Artes da UFMG. Depois montei um pequeno laboratório em casa, mas não me dediquei a este trabalho, na época eu dizia não gostar do trabalho de laboratório. Foi preciso encontrar um bom laboratorista em Londrina-PR, para junto com ele, voltar ao laboratório e me envolver definitivamente com a fotografia. A pçartir deste encontro, dei curso à série fotográfica: "Quando não se pode ver" e começei outras.

Em se tratando do tema urbano, a principio, eu não saia para fotografar, propriamente dito, saia para trabalhar, para fazer as coisas do dia a dia na cidade, saia para viajar, mas levava sempre a câmara e ia fotografando. Era uma maneira de estar no lugar. E assim começei a perceber que o instante e os acontecimentos diversos do cotidiano em um lugar qualquer, são muito interessantes. Qualquer lugar, por mais insignificante que seja, está em movimento e tem coisas acontecendo o tempo todo, é só prestar a tenção para ver, ver (como diz Dostoievsky) que a realidade é mais fantástica que a fantasia. Depois passei a sair para fotografar, pegar o ônibus e ir de bairro a bairro para descobrir imagens, porque queria vê-las em fotografia.
As vezes faço retrato, este é um dos que gosto muito: o rosto desta menina, a cor, o olhar, as mãos, o corte. (Vitória-es, 2009)

A transparência multiplica a imagen. É como uma aquarela, a riqueza está no atravessamento de imagens linhas e formas. (porta da Pinacoteca de São Paulo-2008)

Boulevard da praia. Vitória. Vista do ônibus, assim que parou para pegar um passageiro. A parede amarela atraz ilumina o espaço e esta bela morena, olha ao longe, como se estivençe posando para esta foto. Ela espera e brilha no espaço. Durante muito tempo não percebi a riqueza desta foto, só recentemente, ao selecionar as imagens para exposição na Ybakatu é que ela se fez para mim.












segunda-feira, 26 de julho de 2010

DESLOCAMENTO



PROJETO DESLOCAMENTO - Há muito tempo fotografo em trânsito, nas ruas, nos ônibus, quando viajo, quando saio de casa para realizar alguma tarefa na cidade, a caminho do meu atelier ou a caminho da universidade. Fotografia é uma forma de sair de si, de se interessar pelos arredores e querer ver esses arredores em fotografia. Não é tanto a factualidade do “isso esteve la” de Roland Barthes que interessa, mas o fato de estar em um lugar comum, de interagir com esse lugar e extrair dele conceito.

Estar em trânsito é estar em um lugar. Ônibus lotados, balanço agressivo nas curvas. Ruas esburacadas. Cansaço de um dia de trabalho. As pessoas apertadas em um retângula que se move. Com a câmara na mão começo e ver de outra forma este deslocamento.


Descansar, desenhar, conversar, ler, fotografar, criar imagens. Se não crio o lugar sou levado a pensar o tempo em trânsito como um tempo perdido. É nesta via que acontece este trabalho fotográfico dos coletivos urbanos que nomeio DESLOCAMENTO. Trata-se de uma inversão do transitar coletivo, da possibilidade de vê-lo como lugar possível de se criar, de subverter os estímulos diversos e intensos desses lugares, e para além, da crítica panfletária, vê-los, em fotografia, como possibilidades conceituais.

Desenho e fotografo em ônibus, metrôs e aviões nos diversos lugares e horários possíveis: O movimento das pessoas, cabeças recostadas nas poltronas, atentas, preocupadas ou aéreas, deixando o tempo fluir.

Janelas transparentes e a paisagem urbana passando, é diferente a cada momento. Chama a atenção. Paisagem que se opõe a nós, que afirma sua própria existência, que não se deixa vencer pelo nosso olhar ou pelo nosso desejo, mas que devolve a nós, o olhar que lançamos sobre ela e nos propõem reflexões. Vemos a infinidade de fatos e situações que nos ultrapassam, que não conhecemos, que não compreendemos. Somos convidados a descobrir, mesmo que por um instante apenas, um mistério, uma grandeza nas coisas e, a vivenciar uma experiência que, sabemos, pode estar em todo lugar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

QUEM DESEJA ISSO

Não dormi bem essa noite, creio que fui para cama com algo na cabeça e no corpo que gostaria de tirar, mas como se tira algo indesejável de si? e quem o colocou lá. A pergunta é insidiosa. Posso pensar em alguns nomes de pessoas, em meio à reviravolta dos acontecimentos do dia de ontem, procurando culpados, mas ao final só posso dizer que quem colocou e dourou esse " algo na minha cabeça" fui eu mesmo. E se eu o coloquei em minha cabeça, isso, de alguma forma, é meu, ainda que, no meio da noite indesejável, mas se fui eu quem o colocou lá e se isso me é indesejável, quem desejou ou deseja isso? Ao final da tarde (ontem), ao passar por um barzinho, bebendo cerveja com uns amigos comentei, "ainda bem que desenho, meu consolo, é que desenho, que faço essa coisa chamada desenho, que se desdobra em pintura, fotografia, textos, etc." Desenho, com raiva, medo, mágoa, inquietação e isso me faz reconciliar o sono ,às vezes , e me dá algumas alegria, me trás alguma sensação de beleza, me faz perguntar: quem deseja isso?

Recebo via internet, um livro de um artista amigo meu, o paraibano Walter Wagner, uma série de desenhos e pinturas, que acho admiráveis e isso me faz pensar nos desenhos que venho desenvolvendo, talvez tenham eles também alguma beleza.

Agnes, agradeço sua mensagem generosa. Obrigado. Sua solicitação para que eu continue a escrever é convidativa, mas terminada a disciplina que ministrei não é possível continuar a utilizar a plataforma, como professor. Mas é um prazer falar com vocês, falar de questões relativas a arte e vida, como vínhamos fazendo. Gostaria de continuar nossas conversas, se possível através deste blog, mas tenho que admitir uma certa dificuldade em manter a regularidade que um blog precisa. Quem sabe ? Transmita a idéia aos colegas. Um grande abraço, a você e a quem mais der notícias.
FA

sexta-feira, 16 de julho de 2010

SIGA NA IRREGULARIDADE

ESCREVI a amiga Mariana da Galeria Amparo 60 dizendo que continuava o trabalho de pintura da serie banhistas (que agora prefiro chama de banho). Perguntei: Estas pintura estão sendo bem vista aí? Gostaria de saber, porque trata-se de um pintura totalmente diferente das que vinha fazendo. Até já comentei isso com Lúcia, percebo que não sou um artista regular, com uma linha definida, mas de várias vertentes, não estaria aí um traço de pós- modernidade?

ELA respondeu as obras da serie banhistas acabaram de chegar na galeria com chassi. Alguns arquietos ja viram e gostaram muito! Realmente essa serie se diferencia muito dos seus outros trabalhos, talvez esteja aí pos-moderno mesmo... o trabalho é muito bom! Siga na "irregularidade"! BjsMariana.

SIGA na irregularidade, penso nisso

PENSAMENTOS IMPUROS

Leio Diários de Viagem, de Kafka (Ed. Atalanta, São Paulo, 1998)
Escreve ele, em janeiro de 1911 : "Eu deveria passar a noite escrevendo, tantas são as coisas que ocorrem, mas são todas impuras. E que pode isso passou a ter sobre mim,...[..]

Estas palavras de Kafka me estimulam a recomeçar a escrever este blog, um tanto
incerto, irregular, talvez impuro como escreve o escritor tcheco.

terça-feira, 2 de março de 2010

Tres pinturas: Visita, A casa, Enterro
















Visita ao campo santo - Acrilica sobre tela 180x280cm. 1999



Enterro no mar
Acrilica sobre tela (diptico)
150x20cm. 1999
A Casa do passado
Acrilica sobre tela,
150x140cm. 2007

A TERCEIRA PONTE