Back to Brasil. Minha amiga Luciane me leva à rodoviária e espera comigo o ônibus. Relembramos um pouco a soma dos anos que nos conhecemos. Ano de 1984, já tínhamos lido Jorge Orwel, ela cursando letras e eu artes em Belo Horizonte, na UFMG. Moradia: Casa de estudante Borges da costa (um antigo hospital que foi invadido por estudantes e transformado em moradia estudantil por alguns anos). Na época 100 estudantes na casa hospital, muitas brigas, muitas festas, muitos amores. Para Onde foram todos? Alguns nomes passam pela minha cabeça, algumas fotografias guardadas, algum desaparecimento. Deveria ter amado mais e brigado menos. Mas ali na desordem socialista/democrática muito aprendi e vivi. Foi lá no antigo Borges da Costa que pintei várias séries de quadros, tive meus primeiros modelos vivos e comecei a dar aulas de arte. Situação precária, mas de muita vitalidade. Hoje acho que tenho mais a criar com isso do que com imitações do primeiro mundo.
O ônibus sai no horário, a estrada Boa, incontáveis viadutos e pontes facilitam a viagem, o Verde da paisagem nos acompanha; percebe-se que o estado preocupa com o cidadão. penso nas estradas esburacadas do Brasil e pergunto como os Estados Unidos conseguem fazer isso? Viagem de 4 horas e 30 minutos Boston-New York. às 21:50 parto para o Brasil: aeroporto JFK, terminal 8, chegado em Guarulhos às 9:0hs. Final do dia, aeroporto de Vitoria - ES, abraços e sorrisos do Fernandinho e da Adriana. Espero que tudo corra bem.
O que se leva o que se traz de uma viagem? Em uma palavra: entusiasmo. Sentado no primeiro banco, faço o desenho do dia, a estrada que delineia à frente e o motorista educado que me pergunta se a temperatura está boa. Revejo algumas imagens da visita que fizemos (Eneida, Gabi, Ben e eu) no Walden Pond, que fica em Concord. Ali viveu Henry Thoreau, um dos pensadores mais radicais e interessante que tenho noticia. Seu pensamento influenciou Gandhi, grupos defensores do meio-ambiente e muito outros. Suas propostas tem muito a ver com arte. Por isso, volta e meia trago seus textos para minhas aulas de desenho e pintura. "Walden" e "Desobediência Civil" são desenhos de humanização do homem. Em Walden, ele construiu sozinho, uma pequena casa e madeira e ali Viveu por dois anos, ali teceu pensamentos de fina beleza e realizou longas caminhadas, para pensar, para desobedecer, para viver.