segunda-feira, 9 de junho de 2014

RETRATAR ALGUEM

Retratar alguém é um forma de estar com este alguém algum tempo. Volta e meia faço isso em meu atelier, se temos tempo e disponibilidade. Aproveitando a visita do amigo Julio Tigre, artista capixaba, combinamos de retratar um ao outro em aquarela. A proposta surgiu de um encontro anterior onde comentamos um pouco como trabalhávamos esta técnica, etc. mas de qualquer forma ficou aquela pergunta como você faz aquarela? Como resolve isso ou aquilo? E, curiosos para ver como o outro resolvia ou lidava com os diversos meandros do desenho in loco, resolvemos que era preciso ver o outro trabalhando. Marcamos uma tarde de domingo para isso. Um diante do outro, papel no colo, desenhando e conversando, procurando não se movimentar muito e assim encontrar o fio da meada: 1- que a aquarela guardasse uma certa referencia, semelhança com o outro, 2 - que resultasse em um bom desenho. Ao final de duas horas, ou três, interrompemos a sessão entre satisfeitos com algumas coisas e insatisfeitos com outras. Ficamos de trabalhar ainda as aquarelas, cada um em seu atelier e depois trocarmos um retrato com o outro. Já se passaram cerca de um mês deste encontro e vejo que cada dia a aquarela me parece melhor, sem que eu tenha dado um toque. A imagem se torna mais encorpada e até semelhante ao amigo. Eu também me afeiçoo a ela, ou melhor aceito a, sim porque no ato entre o que se vê, o que se gostaria e o que se consegue fazer fica sempre um coeficiente de insatisfação, como dizia Duchamp, algo que não se realiza, que nos leva para fazer outro quadro.









PINTURA


Revejo uma pintura antiga e relembro.Em 2000 estava em Paris, tinha um pequeno atelier na Cité Universitaire - residence Robert Garric - e uma ansiedade para pintar. Um dia achei uma velha cortina no corredor, amarelada pelo tempo e pelo uso, completamente abandonada. Olhei as manchas e marcas no seu corpo e pensei em aproveitá-la como suporte para uma pintura. Foi fácil rasgá-la e tirar um pedaço de cerca de 90x100cm. pois o tecido estava bastante deteriorado e fraco. Mas quanto mais eu observava aquele tecido, mais ele me falava de uma existência desconhecida, mas que eu podia imaginar.
Ouvi-o com atenção e contei-lhe parte de minha vida e os sentimentos que envolviam ali, naquela cidade, naquele atelier, naquele momento. Fui tateando com os dedos a textura de sua pele, ranhuras, puídos, cicatrizes e sobretudo as manchas, desenhos leves que os dedos não podiam detectar. Tudo isso conteve minha mão. Considerei que que havia ali um belo material para ser visto, então desenhei apenas duas manchas como molduras de um lado e do outro da tela, risquei com carvão a forma estrutural de uma casa e escrevi embaixo: "todos os tecidos apodrecerão". Foi uma das poucas telas que trouxe para casa. Hoje, quase quinze anos passados ela continua sua missão de falar ao meu coração. Boa noite a todos, bom final de semana.





A cidade...

A cidade se mostra e se esconde, e, ainda quando se esconde, se mostra. As costas do que se mostra também é interessante. 



São Paulo, Ibirapuera, fotografia digital.

Deslocamento. Vila Velha, 2009, fotografia digital.

Deslocamento, Vitória-ES, 2008, fotografia digital.

Deslocamento, São Paulo-SP 2002

Desenhar alguém...


Desenhar alguém é uma maneira de estar com esse alguém. O desenho é um traço dessa existência.
Lara aí vai o desenho, penso em continuá-lo em aquarela, qualquer dia desses.
Pequeno retrato de Lara Milbratz Ferreira em meu caderno de andanças. 







Mosteiro Zen Ibiraçu. grafite sobre papel, 15x20cm. 2014

Livro de Artista - Viajamos para viver
Grafite sobre papel, 32x25cm, 2012

PAISAGEM SONORA


Feche os olhos e veja. Quando você fica quieto qualquer ruído é informação. De olhos fechados desenhe os ruídos diversos que ouvir. Perceba pontos, linhas, planos, cores e espaço. Procure não fazer linhas iguais, automáticas. Conscientemente estabeleça diferentes traços, fortes, fracos, leves, lentos, rápidos e analogias espaciais: longe, perto etc. E vamos criar uma espécie de paisagem sonora. Vamos chamar este exercício de percepção sonora gráfica. Aula de desenho UFES Vitória – 30/11/12



Desenho feito no Mosteiro zen - Ibiraçu-Es, grafite sobre papel. livro de artista, 50x60cm. (aberto)