terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

VIAJAMOS PARA VIVER

7- Fernando Pessoa, escreve em seu maravilhoso poema O Guardador de Rebanhos “nunca guardei rebanhos, mas é como se os tivesse guardado”. Esse verso é para mim tão maravilhoso que às vezes repito-o mentalmente, como se também já tivesse guardado rebanhos e/ou imaginando a extensão desse guardar. Esse verso me seguiu quando segui viagem ao Amazonas subindo o Rio Madeira. Eu nunca havia desenhado paisagem, mas ao viajar pela Amazônia, me propondo trabalhar esse tema a partir da experiência de ver a floresta e olhando depois as imagens, senti algo dessa natureza, de como já tivesse desenhado paisagens.

 

Da série "Viajamos para viver" grafite sobre papel, dimensões 80x100cm cada





8- Como desenhar paisagem sem se ocupar de folhar galhos, caules, forma figurativas, etc.? Esta foi a pergunta que me coloquei ao encarar o tema. A resposta veio na ponta do lápis: trabalhar os elementos visuais: ponto, linha, plano e, assim criar gradações tonais, luz sombra, volume, etc. Este pensamento me fez interessar pela paisagem como invenção (lembrar que paisagem não é natureza), pois trata-se de um constructo que alude à vista, ao olhar que se lança sobre o horizonte. Às vezes escuto de alguns amigos e alunos, referindo-se a estas paisagens que não teriam paciência para desenhar assim com tanto detalhe, mal sabem ele que eu também não, o detalhe ali é ilusão, o que existe de fato não miríades de pontos e linhas traçados com rapidez; cada centímetro quadrado desenhado é feito com impaciência, com agilidade, com velocidade em várias seções. Isto sim, não dá para esperar terminar um trabalho deste em uma semana ou mesmo é um mês. É feito com tempo, às vezes distraidamente.

Desenhos da "Viajamos para viver", grafite sobre papel 80x100 , o último desenho (o do autorretrato),é carvão sobre papel 100x220cm.
 
Iraci Salla Batista, Bom ler seu comentário, vc que também desenha paisagem. Sandro S. Novaes, valeu nos encontro rápido em sua exposição, trago-lhe mais alguns desenhos, Fernanda Filipini, tem paciência e impaciência, Loukás Torquatus, bom que você queira ver os desenhos in loco, como o Sandro, é só marcar de tomarmos um café no atelier. Sandra Diniz, bom ter seu olhar e amizade Sandra Makowiecky, você me fez lembrar uma frase do Monet: para fazer precisa-se de três coisas: cultura, técnica e uma ideia. Dani Acioli, Lina Menezes, Marcia Zoé Ramos, Jonathas Monerat Ribeiro, vamos nos falando por aqui.



Da série "Viajamos para viver" grafite sobre papel, dimensões  80x100cm


Da série "Viajamos para viver" grafite sobre papel, dimensões 100x220cm



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Viajamos para viver - aquarelas

 Aquarelas, dimensões 20x15cm cada, projeto Viajamos para viver realizado em janeiro de 2012 com o Navio da Esperança da Marinha brasileira em viagem de Manaus - AM a Porto Velho - RO no NASCH (Navio Hospital Carlos Chagas)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VERNISAGE NO ATELIÊ

7 – VERNISAGE NO ATELIÊ. Convidei alguns amigos ao meu atelier para mostrar-lhes alguns  trabalhos, mais especificamente os desenhos da série “Viajamos para viver” que relata a viagem ao Amazonas que realizei em janeiro de 2012. Foi uma vernissage informal para ver e falar sobre desenhos e outras intoxicações. Gostei de ver o gesto de espanto deles e de ver também o tempo que se dedicavam a olhar cada desenho, com atenção, às vezes sem falar nada, às vezes tentando dizer da natureza do espanto. Dir- se-ia que o trabalho comunicou algo, ou melhor que provocou uma emoção;
Que mais um artista haveria de querer?
Ao retornar para casa algumas coisas me vieram à mente:
1 – As palavras da pintora americana Helen Fankenthaler: “Para qualquer obra, em tela ou papel, a pergunta é: funciona? É bonito?”
2 - Uma estudante que me disse que não nunca desenharia uma paisagem ou uma mulher nua ou um retrato,  porque queria fazer um trabalho político. Não sabia ela que pintar uma paisagem, desenhar uma mulher nua pode também ser um ato revolucionário;
3- Voltei do atelier  para casa, depois de meia noite, com vontade de trabalhar, de desenhar, de olhar  de fazer poesia até cair. Mas no fundo, uma palavra que discutíramos muito se fazia ouvir: inadequação

Dani Acioli é bom saber, e ver seu entusiasmo. outro dia digitei os textos daquela nosso oficina de desenho aí no Recife, quem sabe uma hora traços dele não aparece por aqui? Soraia Carvalho muito muito bonito seu olhar e suas palavras. tem poesia. Lina um momento de inspiração é uma centelha. Maria Radicce Maria Isaura Barbosa Antunes e todos que curtiram, valeu

A TRAMA DA REDE

6 - A TRAMA DA REDE. Todos dormem, os pássaros não, eu os escuto, os esqueço, vou para onde não estou e volto aqui. Os pássaros, os grilos me trazem para onde estou. Escutar é um exercício do aqui agora. Nesse exercício de ir e vir as horas passam. Será um lugar? Encontro uma trama desenhada em aquarela com a frase embaixo: “para você continuar”, mas decido continua-la eu mesmo, sem me importar que a ache “fraca”, feia, que não seja um desenho que eu gostaria que fosse. Na verdade nenhum desenho é o que eu gostaria que fosse nesta manha calma e fresca de Londrina. Poderia até chama-la de bela, mas como fazer isso se estou no gostaria? Se nada me basta? Faço a pergunta: o que me bastaria? Olho a página e quero falar, conversar, estar com alguém e encontrar, de alguma forma algo de prazer. Olho a rede desenhada e quero uma obra definitiva. Acredito que tal obra me daria este alento, mas este “definitivo” também passa pelo outro, pela comunicação, pelo encontro, pelo abraço, pela comunhão. Como fala Tom Zé, ele como artista tem um patrão e este patrão é público (ainda que muitas vezes ele contrarie esse patrão). Desenho mais uma folha solta que pode estar aqui, acolá, em qualquer lugar sem ninguém para amá-la... mas, em algum ponto, no fundo, no fundo, algo me diz que este amor está aqui. Mesmo que eu não releia, nem corrija o que escrevo, nem volte para amar estas folhas soltas e me pergunte: “desenhar esta trama para quê?” Pergunto, mas desenhando, o desenho, a rede é uma questão. A resposta não vem de outro modo. Faço a pergunta para me entender, para falar comigo mesmo e com você. Mas ela, a pergunta está no próprio desenho e, o desenho é o questionamento fundamental e também a resposta possível. Querer clareza é a angústia vital que leva a outro desenho (pintura ou texto), sendo ele mesmo clarão e obscuridade, clarão que se revela sobre um instante e obscuridade que aponta o passo seguinte. A ideia era você completar este desenho, mas na sua ausência, ou na sua presença em mim, lá vou eu fazendo o seu papel, nosso papel, continuo a trama, a rede, penso que concluindo-o como acho que que gostaria que fosse, não será melhor do que como está agora (mesmo porque o “gostaria que fosse” não existe, não está em lugar nenhum a não ser no desejo). Uma trama se sobrepõe a outra, dois tempos, o desenho ganha profundidade, fecha-se a Gestalt. Sorrio surpreso e com prazer. Diria que é um bom desenho. O acabado e o inacabado se equivalem, ou melhor, para dizer com Manoel de Barros “ a maior fortuna do homem é sua incompletude, nesse ponto eu sou abastado”
Branca Bittencourt obrigado pelo seu alô, pela linda imagem, fico feliz em saber do ingreso da sua filha na Eba, lembro-me dos desenho dela e da garra e ma faz lembrar também do tempo que estudei e lecionei em bh. Iriana Vezzani Regina MenezesCarlos Madureira Soraia Carvalho Valdete Vazzoler Maria Radicce Maria Isaura Barbosa Antunes Dani Acioli Zé de Rocha Lina Menezes Marcia Zoé Ramos Hélia Márcia e tantos outros, voces são os outros comigo de que falo no texto.
 
 



DEPOIS DO TEXTO

Depois do texto "Acabar as palavras" trago-lhes a aquarela cuja finalização se deu com o referido texto. aquarela, caneta e colagem sobre papel, 30x40cm. 2012/14. imagem scaneada sem tratamento. Iriana Vezzani chegando as imagens, em maio quero ir aí em Ctba. Branca Bittencourt nova foto com a filhas, lindas, heim? Regina Menezes Lina Menezes continuando nosso contato bj.


APAGAR AS PALAVRAS

APAGAR AS PALAVRAS. Até hoje me surpreende visualizar esta frase escrita na tela, tanto que a apaguei, mas continuo lendo-a, como agora nessa manha, enquanto escrevo-desenho. Escrevo ao redor de uma aquarela de cinco anos atrás, como que para acorda-la. Por fim a caneta penetra nas cores transparentes da aquarela e reconfigura a imagem. O que é esta quantidade enorme de palavras com as quais encho páginas e paginas de cadernos, sem tirar tempo para relê-las? (de repente me vem à mente que não reler o próprio texto é não tomar posse dele). É uma profusão que se torna quase uma mudez. Sim, mudez em boca cheia de palavras. É um estranho enigma: de um lado, as palavras me sobram, (daí a frase “apagar as palavras” de quinze anos atrás), do outro, elas me faltam; no final, vejo que elas não me levam ao entendimento. Mas entendimento, esclarecimento são palavras caras. Que sabemos das coisas? Atribuímos às coisas mistérios e queremos pelas palavras desvendá-los, mas elas nos enredam e nos levam a outros mistérios. O entendimento que as palavras nos proporcionam é apenas uma parte do seu corpo a outra é a poesia, a sonoridade, a música, a embriaguez. Sim, embriaguez, devaneios, sonhos e, as pequenas réstias de luz, de entendimento que elas nos oferecem são apenas para tomarmos consciência desse sonho, da poesia e desfrutá-la enquanto seres humanos e através dela nos humanizarmos, pois, como disse o poeta é “poeticamente que o homem a terra”. (Hölderlin) Vivo com esse dilema: falar para descobrir, para encontrar, para esclarecer, para me curar de algo que se dá pela fala, e mais do que tudo isso, para me salvar, para se animar.... Imagino que se eu trocasse com alguém, como Freud escreveu a Fliess, poderia encontrar alguma absolvição; descobriria talvez o sentido. Mas como tirar a trava do próprio olho? Lembro-me de uma amiga amazonense Edilamar que conheci em São Paulo e com quem troquei longas cartas (de dez, quinze paginas! Por onde ela andará?). Recentemente achei uma dessas cartas dela em uma gaveta e pensei em desenhá-la. Outra via para sair do embotamento desta manha, ligar para os amigos, ir a Curitiba, Maringá... encontra-los. Vários nomes me veem à mente: Regina, Juliana , Cleuber, Piau, Fátima, Maria, Edna, Sandro, Ana Claudia, Paolo, Dulce, Tania, Iriana. Novamente eu me pergunto pra que desenhar, pra que escrever, para que? De repente, acredito em algo, nessa potencialidade, nessa possibilidade de dizer as coisas, de dar forma sem forma - não na mensagem - mas neste meio, nessa possibilidade de continuar falando. A aquarela cercada com esse desabafo ficou boa, funciona, pode ser que fique assim. Amigos: Regina Menezes Del Pilar Sallum Iriana Vezzani Zé de Rocha Branca Bittencourt Valdete Vazzoler Lina Menezes Edna Mara Ferreira termino o texto conforme prometido, grato pela leitura e carinho...bj. f.a.

AS PALAVRAS

4- AS PALAVRAS. Revejo uma série de desenhos com textos e me detenho em um deles: Susan Sontag fala de Elias Canetti: aprender a escutar o mundo. Estou em Londrina, acordo cedo, vou para a varanda, pego meu “diário gráfico” e desenho de olhos fechados os sons que escuto, chamo este exercício paisagem sonora, pois o emaranhado leve das linhas sugere sempre uma paisagem.. O dia amanhece fresco, a neblina empresta um ar bucólico, a natureza é calma por fora. Na impossibilidade de organizar de forma linear o que quero, ou que gostaria, ou o que penso que quero respiro o ar fresco da neblina e desenho-escrevo. Mas quero tanta coisa que não há lugar para tanto, me fala Fernando Pessoa. Eu não sou nada, mas aparte isso trago em mim todo o universo. Ou vesti o paletó que me deram e, quando quis me desfazer dele esta com a mascara gravada no rosto. Mas voltando a Canetti, gosto deste autor porque ele escreve bem e sua escrita para mim tem duas pegadas, uma é ser uma escrita sem ressentimento, por deus como isso é belo, outra, é ser uma escrita da escuta, é o que vejo em “A Língua absolvida” e “Uma luz no meu ouvido”. Canetti foi ameaçado, quando criança, de ter a língua cortada pelo amante da empregada, caso contasse o via, e ele ficou calado, com medo, remoendo este fato por anos, até que decidiu contar à sua mãe e percebeu então o significado de falar o que tinha guardado; aí, observa um crítico, acontece a absolvição da língua que da título ao livro. "A língua absolvida" representa a possibilidade de falar de ser livre na língua, a capacidade de tornar-se humano e realizar-se através da fala. Vem me então à mente um fato: anos atrás escrevi, em um quadro, a frase “cortar as palavras”, muito tempo depois ao relê-la senti desconforto e apaguei-a, mas ela me vem à mente porque até hoje pergunto o sentido dessa sentença
Juvenildes Costa Santos Branca Bittencourt Iriana Vezzani Lina MenezesEdna Mara FerreiraDel Pilar Sallum del salum e demais amigos como é um texto longo continuo próxima semana, ok?)
Valdete Vazzoler, bom saber de você, em maio, possivelmente 15 estarei em Londrina para lançamento de um livro no Museu de arte.
Regina Menezes, tenho no coração o nosso encontro, nossa conversa, penso ainda em criar um blog, quem sabe?
Zé de Rocha, nossa conversa sobre desenho foi realmente muito mas guardo o impacto do seu desenho na parede, que vitalidade!

MUDAR O PASSADO

MUDAR O PASSADO. Acordo de madrugada e releio anotações em meus cadernos. Uma sensação de esquecimento tem me ocorrido com certa frequência ultimamente: nomes, palavras, imagens desaparecem da minha cabeça, às vezes sem deixar nenhum rastro. Isso tem me chamado a atenção (parece-me que preciso mais da minha memória e lembranças agora do que nunca). Seria falta de atenção ou desleixo de minha parte? Um traço da idade? Ou seria um trabalho próprio da memória por não suportar tantas informações, ou um trabalho da psique para encobrir imagens? Enquanto algumas lembranças se perdem outras mudam, se tornando, às vezes, completamente novas para mim e eu me sinto mais livre para lidar com que passou e com o que se apresenta. Desenho, pinto, fotografo no presente e, quando consigo realizar bem esta tarefa, toco com ela o meu passado, acesso lembranças, descubro coisas encobertas que não mudam apenas o meu presente, mas me permitem também mudar o passado. Iriana Vezzani Branca Bittencourt Princila Cunha Valdete Vazzoler, Zé de Rocha Pillar Del Pilar Sallum Lembrei-me de vocês neste pequeno texto. Bom encontra-los em minhas lembranças.

ALEGRIA

ALEGRIA E SOFRIMENTO - Em um muro frente ao meu atelier alguém pichou “vivi pouco sofri muito”. Esta frase aparece em outros muros do bairro, certamente do mesmo autor. Mas hoje me detenho mais nela do que no outros dias. Cai uma chuva forte com raios próximos e trovões ensurdecedores. A atmosfera se torna cinzenta, perigosa e bela. Quem a escreveu é certamente um pessoa de meia idade e anda por aí e está vivo, no entanto escreve como morto, escreve um epitáfio. Seria esta frase que ele escolheria para sua lápide? Que efeito ele está querendo produzir e o que este texto nos muros produz nele? Vou para os meus textos: Não vivi grandes sofrimentos, nem passei por dores lancinantes. Olhando em retrospecto, vejo que tornei maiores muitos dos meus sofrimentos e criei, quase voluntariamente diversos deles, movido por um querer mais e por entrar em brigas e disputas que não eram minhas, (como reconhecer este lugar?) Sei que trata-se de temperamento, que trago geneticamente certa predisposição para o fogo, que o ambiente tem sua participação e que o meu ego completa esta estrutura ou quadro. Mas gostaria de dizer algo diferente, gostaria de dizer que aprendi algo com e sobre o sofrimento: aprendi que posso construi-lo e que também posso destrui-lo, ou pelo menos, não construi-lo em muitos momentos. A via régia para isso, e que vem do zen, é o desapego, é a freada no querer o que não pode carregar, é conseguir estar no presente e no que ele oferece. A psicanálise apoia, via Freud ao escrever que a felicidade consiste mais em evitar sofrimentos do que realizar todos os nossos desejos. Olho o texto do muro e não o enfrento, depois do que já sofri (laser nos olhos, distancia dos filhos, morte do pai, de irmãos, perda de amigos e incertezas diversas..) vejo que sofrimento e alegria se equilibram e que posso viver, de alguma forma alegria em todos os momentos da vida. Isso não significa mar de rosas, ausência de dor ou de dificuldades, mas um ponto de vista, uma disposição, uma atitude. Posso me dispor à alegria e ao entusiasmo e colocar esse direcionamento em meus passos. Assim escrevo este texto, afinal a alegria é a prova dos nove.
Edna Mara Ferreira, Sandra Makowiecky, Branca Bittencourt, Wlater Ornela Fernandes e outros, obrigado pelo contato

QUASE PERCO A VISÃO

OLHOS. QUASE perco as vistas e nem me dei conta, não senti. Duas conjuntivites seguidas e um sinal nos olhos em uma fotografia para carteira de motorista me levaram ao oftalmologista; a principio tudo normal. mas ele pede um exame da retina. aí recebo o diagnóstico de que estava prestes a ter um descolamento de retina. coisa grave. não perco tempo, dou inicio ao tratamento:uma cirurgia a laser. disparos de laser nos olhos abertos, lacrimejando, fisgadas, tontura... pergunto ao médico se ninguém nunca desmaiou no consultório dele. ele responde que quase e acrescenta que as mulheres são mais resistentes a este tipo de tratamento e as vezes também adolescentes. a última sessão foi ontem, a mais dura. enquanto as outras foi uma intervenção em cada olho por sessão, esta foi nos dois. era para ser apenas revisão, mas o médico disse que a outra parte do olho estava com rachaduras e tinha que intervir logo, right now! e lá se foi, cerca de duzentos disparos em cada olho! um suplício, mas que chegou ao fim. naquele momento eu não tinha noção de como abri os olhos: era luz, escuridão e lágrimas. e a voz do médico: "você teve sorte, senão teria de passar por uma cirurgia complicadíssima e deficitária, nosso time ganhou, está tratado." alivio e muitos pensamentos. um sentido, a visão. como seria minha vida sem ela? como digitar um texto, fazer um pagamento num banco, ir a um restaurante, sentar com alguém e não olha-la? como escolher uma roupa, como contar o dinheiro na carteira... como desenhar? Passei o resto da tarde com os olhos fechados, apenas entreabrindo-os as vezes para me localizar. um dado momento meu filhinho comia melancia e eu entreabri os olhos para vê-lo e ele disse "papai, você está abrindo os olhos papai, você está feliz". Sim filho, estou feliz em vê-lo, respondi. depois voltei às minhas reflexões: o que ver daqui para frente? ah, os sintomas de descolamento de retina é ver pontinhos pretos as vezes.