quinta-feira, 30 de abril de 2015

UM ANO DESENHADO



Um dos primeiros exercícios da manhã, quando não dá vai pra tarde ou noite. Não raramente outros desenhos seguem este, mas aí é outra história. Um ano desenhado é apenas um traço de um dia, as vezes um traço ligeiro, as vezes demorado, mas um desafio e tanto! Vez ou outra me pergunto porque inventei isso? E ainda convidei outras pessoas? Para desenhar, para não estar sozinho. Para enfrentar essa realidade do Brasil: a corrupção generalizada, o clima de guerra ontem na Praça da assembleia em Curitiba, ontem, e ouvir um dos parlamentares dizendo "a bomba não é aqui, vamos votar". Votar o que? Ele está protegido, se acha protegido. Desenhar para resistir, para não sé sucumbir. Desenhar para não ser consumido pela burocracia, não ser consumido por essa política que está aí. Desenhar para não votar em ninguém onde a bomba não estar. Desenhar o que? Hoje desenhei 'um jarro de flor'. As vezes desenhar uma flor é um ato revolucionário.


terça-feira, 28 de abril de 2015

LIVRO DE ESPERA



Não há espera que não termine. Por três vezes pensei haver terminado, por três vezes retornei a desenhar - como se fosse o primeiro momento - e assim, poderia ter continuado, mas, paro por aqui, para te enviar, te enviar estas linhas, estes espaços, este livro de espera para que tu o continue.'

Desenhos de espera. Como esperar algo? As vezes pensamos a espera como perda de tempo, por isso, muitas vezes atravessamos estes esses momentos de maneira passiva, quando não contrariados. É comum ouvirmos alguém dizer que não gosta de esperar. Quem gosta? Por outro lado há aqueles que gostam de se fazer esperar e até a usam como uma forma de poder. Mas isso é outra história, o assunto que quero tratar aqui é um outro tipo de espera, a espera constituída, assumida e por conseguinte ativa, aquela que você utiliza como forma de estar em um lugar, para sentir, pensar, ver, perceber, se energizar, criar, etc.

Esperar faz parte das nossas vidas desde quando nascemos, aliás, antes de nascer somos esperados. Então, como tratar os tantos momentos de espera que constituímos e que nos constituem? Só de falar isso vejo, de relance, uns tantos momentos de espera que me circundam... Espera em bancos, no trânsito, no supermercado, no restaurante, espera para encontrar alguém, espera até para deixar alguém falar... Agora mesmo estou esperando meu filho na aula de musicoterapia. É...  Acho que esse é um assunto do qual muito se poder falar e fazer.

Esses dias fiquei a esperar os poemas que minha colega de residência no Vermont Studio Center Beth Seetch, ficou de me enviar. E como já disse aqui, assim que ela disse que ia me enviar alguns poemas, comecei a desenhar essa espera. Vários dias, vários momentos, sentindo essa espera, vários dias e momentos desenhando esta espera. Hoje terminei o que chamei "Livro de espera." Um livro artesanal, de páginas sanfonadas, condicionado em caixa de madeira com linhas a carvão, letras decadray e espaços brancos; um livro para ser continuado. Ao colocá-lo no correio escrevo a minha amiga:

"Não há espera que não tem fim. Por três vezes pensei haver terminado, por três vezes retornei a desenhar - como se fosse o primeiro momento - e assim poderia ter continuado, mas, paro por aqui, para te enviar, te enviar estas linhas, estes espaços, este livro de espeta para que tu o continue.'

Aos que acompanharam até aqui meu agradecimento e abraço, torço para que tenha valido a espera.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

TIVERAM ELES TEMPO DE VER?



Alguns pensamentos esquisitos. Vou para o atelier de bike. Manhã quente e fresca. Passo pela academia do bairro para me informar do funcionamento e de exercícios físicos para minha. Preciso me cuidar antes que venha uma daquelas crises de coluna que já me levou ao hospital alguns anos atrás. Depois sigo para o atelier, pedalando feito um louco, com pressa de chegar. Um carro passa raspando minha bicicleta. Tenho ímpeto de xingar. Em menos de um minuto passa outro. Ah, será q é porque é sexta feira? Penso em certos trabalhos que tenho no ateliê me esperando, intermitentes, alguns recentes e outros de anos atrás, guardados a sete chaves... Como dar Cabo deles? Se acontece um acidente agora na rua? Pensamentos absurdos, mas penso: como é morrer assim de repente em um acidente, teria eu tempo de ver? Lembro me de dois ex alunos da UFES mortos assassinados aqui no estado... Coisa Barbara... Tiveram eles tempo de ver? O que é olhar para a morte de frente, repassar a vida em poucos minutos, sentir as forças desaparecendo? Acho que uma das nossas grandes tarefas é aprender a morrer. Isto implica saber viver, saber que estamos de passagem, saber que a morte é a nossa grande criadora de sentido, saber que a morte não é inimiga da vida. Respiro e volto a pedalar, pedalo mais tranquilamente, gostosamente, pedalar é uma das coisas mais gostosas que aprendi a fazer em Vitória. Se eu fosse desenhar/ escrever os pensamentos associativos dessa pedalada o que faria? Como dizia Millôr 'livre pensar é só pensar. Deixa uma foto da 'Negona'. Bom dia todo mundo!