Retratar alguém é um forma de estar com este alguém algum tempo. Volta e meia faço isso em meu atelier, se temos tempo e disponibilidade. Aproveitando a visita do amigo Julio Tigre, artista capixaba, combinamos de retratar um ao outro em aquarela. A proposta surgiu de um encontro anterior onde comentamos um pouco como trabalhávamos esta técnica, etc. mas de qualquer forma ficou aquela pergunta como você faz aquarela? Como resolve isso ou aquilo? E, curiosos para ver como o outro resolvia ou lidava com os diversos meandros do desenho in loco, resolvemos que era preciso ver o outro trabalhando. Marcamos uma tarde de domingo para isso. Um diante do outro, papel no colo, desenhando e conversando, procurando não se movimentar muito e assim encontrar o fio da meada: 1- que a aquarela guardasse uma certa referencia, semelhança com o outro, 2 - que resultasse em um bom desenho. Ao final de duas horas, ou três, interrompemos a sessão entre satisfeitos com algumas coisas e insatisfeitos com outras. Ficamos de trabalhar ainda as aquarelas, cada um em seu atelier e depois trocarmos um retrato com o outro. Já se passaram cerca de um mês deste encontro e vejo que cada dia a aquarela me parece melhor, sem que eu tenha dado um toque. A imagem se torna mais encorpada e até semelhante ao amigo. Eu também me afeiçoo a ela, ou melhor aceito a, sim porque no ato entre o que se vê, o que se gostaria e o que se consegue fazer fica sempre um coeficiente de insatisfação, como dizia Duchamp, algo que não se realiza, que nos leva para fazer outro quadro.
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