terça-feira, 27 de janeiro de 2015

TERÇA, QUARTA OU QUINTA

Olho pela janela e vejo a neve cair em infinitos flocos brancos. Flocos tão pequeninos e esvoaçantes que quando os vemos eles já não estão mais ali. São Pontos e linhas brancas dançando no céu em ritmos diversos, às vezes calmas as vezes frenéticas, as vezes turbilhonantes. Embaixo, tudo o que era rua, calçada, meio fio, hidrante, cerca muro, vai se tornando um grande plano branco. Penso em Malevich com seu "quadrado branco sobre o branco." Só podia mesmo vir da Rússia, um pais branco, que por um bom tempo costumamos chamar de vermelho. Lembro- me em seguida, de Olga, não a Benario, mulher do
Carlos prestes, mas uma garota russa, também chamada Olga, que conheci rapidamente nos tempos de estudante e por quem me apaixonei, mas que minha timidez não me deixou aproximar. Não tenho dela nenhum retrato, somente sua imagem espiritual, seus cabelos claros, seus olhos grandes e azulados, seus dentes brancos, enfileirados como perolas na neve, seu sorriso grande que iluminava toda conversa e abraçava todos que dela se aproximavam, seu corpo branco e macio por baixo de uma roupa simples que nada revelava do seu corpo que eu tanto queria ver e seus gemidos, seus gemidos e gritos de gozo que inundavam o corredor e derretia seu corpo, cobrindo de branco hidrantes, meio fios, ruas e postes.
Ah, Do outro lado da rua ainda se lê, em vermelho, "don't walk". Com efeito, hoje a ordem ē não sair de casa. Faço isso, olho a neve pela janela e a neve vem a mim. Milhões de pontos brancos sobre o branco. Olho atentamente essa dança maravilhosa, balanço a cabeça! Fecho os olhos para ver, ver o já vi, ou que não vi, ou o que não verei nunca.
 
 
 
 

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