HAVERA
PERDAO? ou até tudo isso ser apenas desenho - Mais um texto longo
demais p facebook, por isso aviso não perca seu tempo, mas for teimoso
vamos de Desenho saúde/doença.
Uma semana de consultas médicas,
otorrinolaringologia, tratamento do sono e exames a fins. Agora mesmo
escrevo com o olho direito dilatado, que explode de luz, portanto
escrevo com um olho aberto o outro fechado. Faço alguns croquis das
pessoas que esperam na sala. A televisão transmite notícias diversas -
guerra na Síria, ocoktober Fest em Blumenau, festa nordestina em São
Paulo, justificativas do deputado Eduardo Cunha da sua participação no
rombo da Petrobras e outros rombos, um vereador no Rio Grande do Sul
que deu chicotadas em um auxiliar de trânsito que o notificou por
estacionar em uma vaga de idoso...
Algumas pessoas riem diante do
absurdo dessa última... Eu sinto um pouco de raiva, imagino a cena: o
vereador empodeirado do seu cargo que tem no carro um chicote e, faz uso
dele batendo no rapaz que ao final não matou o vereador, nem quebrou
lhe o nariz nem desferiu lhe uma tijolada no parabrisa do carro. Dà
raiva, mas desenho com calma pontos linhas reconstruindo os rostos na
sala de espera. Contudo as notícias me incomodam, a do vereador então!
meu ímpeto seria de mandar uma tijolada no parabrisa dele, de
quebrar-lhe o nariz; responder violência com violência, bravata com
bravata....
Rabisco e pergunto ao papel: Até quando? Lembro me
de um Desenho de Marcos Coelho : até vc continuar a ser um Desenho.
Acho que agi assim, com ímpeto raivoso em quase toda minha vida. AgorA
mesmo Localizo cenas desta modalidade desde a infância... Brigas de
Rua, brigas de adoleScente, de jovens e de adultos. Tudo vaidade. Traços
de um complexo de inferioridade querendo se superar. Hoje, se faço as
contas mais perdi do que ganhei. Queria certezas, verdAdes, mas sou
marcado pela incerteza, dúvidAs e isso definiu minha caminhada.
Na juventude e em alguns outros momentos imaginei certezas e fiz ou
Faria qualquer coisa em nome delas. Era como partido político e se a
vida tivesse me dado poder, eu teria sido talvez um ditador, em nome
daquelas certezas, um Stalin da vida, ditador vingativo e cruel com os
adversários e inimigos. Mas não, a vida não me deu poder ou eu não soube
(não quis) construi- lo, assim não entrei para política, não me liguei a
firmas poderosas, nem liguei a grupos partidários que se pretendesse
longa duração. Minha inquietude me fez mudar de lugar diversas vezes, me
fez também entrar em brigas que não eram minhas ou não eram corretas, a
me afastar de pessoas que eram verdadeiros amores. Haverá perdão? As
que tiveram paciência e bondade comigo permanecem, suportam minhas
ausências, minhas impaciencias e/ou veem em meus desenhos fotografias
esse traço do perdão, necessário a sobrevivência da cultura. Elas, eles
veem em meu trabalho, alguma doação, essa Tarefa insana de criar
imagens formas, retratos de um lugar que não temos acesso e que talvez
me tenha sido destinado como desafio, necessidade ou caminho.
Venho buscando, e, nunca soube dizer o que quero, ou quis, nem que lugar
escolher para ficar. E se soubesse, que lugar seria? Ou o que seria? Na
minha vida inqueita, daqueles e de todos os dia, certeza, credo, lugar
certo, Tudo me parecia comodidade, senão prisão, condenação, medo,
loucura; neste contexto. Dizia a mim mesmo que se tivesse que
enlouquecer que fosse tentando, buscando o que me daria prazer.
Falar isso não me dá a pecha de corajoso; não, sempre tive medo, medo
da solidão, da pobreza, da dor, da inferioridade, da violencia e outros
itens que não sei nomear. Talvez por ser taurino, como dizem algumas
pessoas que acreditam nos astros, sou mais terra, do fazer, do garantir o
básico, do não arriscar tudo.
Aos trinta anos busquei
verdadeiramente meu primeiro emprego, um lugar com certa garantia e
também com certa liberdade de viver e trabalhar - a universidade: um
lugar onde poderia ensinar, aprender, constituir grupos, mesmo que
passageiros, fazer arte e falar deste fazer. Um bom lugar para tantas
inquietações, um lugar laboratório, atelier, que se estende a todos os
lugares onde vou, pois, como diria Valery, onde quer que vá, vou como
artista'.
Mas comecei este texto falando de consulta médica,
sala de espera e de raiva, no caso do vereador do chicote. Não vou
esgotar esses assuntos aqui, pois se releio alguns dos parágrafos acima,
vejo outras trilhas que se bifurcam neste fluxo de pensamentos. Mas
para concluir, vem a pergunta: quem vence essa batalha absurda, o
vereador que chicoteou ou o rapaz que recebeu as chicotadas e não
revidou? ...
Passeio com o grafite sobre o papel e sinto a
gramatura áspera do papel. Gosto destes rostos com rugas e ar de espera
que vou desenhando enquanto esperamos. Pm senhor com um olho tapado
percebe que o desenho, disfarço, estamos ambos olhando as coisa com um
olho só. Ou melhor, Com um olho dilatado e outro não, tenho dois pontos
de vistas, opostos até, aos quais tenho que me adaptar
Aos teimosos que me acompanharam até aqui meu, obrigado pela paciência, energia e abraço!
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