APAGAR
AS PALAVRAS. Até hoje me surpreende visualizar esta frase escrita na
tela, tanto que a apaguei, mas continuo lendo-a, como agora nessa
manha, enquanto escrevo-desenho. Escrevo ao redor de uma aquarela de
cinco anos atrás, como que para acorda-la. Por fim a caneta penetra nas
cores transparentes da aquarela e reconfigura a imagem. O que é esta
quantidade enorme de palavras com as quais encho
páginas e paginas de cadernos, sem tirar tempo para relê-las? (de
repente me vem à mente que não reler o próprio texto é não tomar posse
dele). É uma profusão que se torna quase uma mudez. Sim, mudez em boca
cheia de palavras. É um estranho enigma: de um lado, as palavras me
sobram, (daí a frase “apagar as palavras” de quinze anos atrás), do
outro, elas me faltam; no final, vejo que elas não me levam ao
entendimento. Mas entendimento, esclarecimento são palavras caras. Que
sabemos das coisas? Atribuímos às coisas mistérios e queremos pelas
palavras desvendá-los, mas elas nos enredam e nos levam a outros
mistérios. O entendimento que as palavras nos proporcionam é apenas uma
parte do seu corpo a outra é a poesia, a sonoridade, a música, a
embriaguez. Sim, embriaguez, devaneios, sonhos e, as pequenas réstias de
luz, de entendimento que elas nos oferecem são apenas para tomarmos
consciência desse sonho, da poesia e desfrutá-la enquanto seres humanos e
através dela nos humanizarmos, pois, como disse o poeta é “poeticamente
que o homem a terra”. (Hölderlin) Vivo com esse dilema: falar para
descobrir, para encontrar, para esclarecer, para me curar de algo que se
dá pela fala, e mais do que tudo isso, para me salvar, para se
animar.... Imagino que se eu trocasse com alguém, como Freud escreveu a
Fliess, poderia encontrar alguma absolvição; descobriria talvez o
sentido. Mas como tirar a trava do próprio olho? Lembro-me de uma amiga
amazonense Edilamar que conheci em São Paulo e com quem troquei longas
cartas (de dez, quinze paginas! Por onde ela andará?). Recentemente
achei uma dessas cartas dela em uma gaveta e pensei em desenhá-la. Outra
via para sair do embotamento desta manha, ligar para os amigos, ir a
Curitiba, Maringá... encontra-los. Vários nomes me veem à mente: Regina,
Juliana , Cleuber, Piau, Fátima, Maria, Edna, Sandro, Ana Claudia,
Paolo, Dulce, Tania, Iriana. Novamente eu me pergunto pra que desenhar,
pra que escrever, para que? De repente, acredito em algo, nessa
potencialidade, nessa possibilidade de dizer as coisas, de dar forma sem
forma - não na mensagem - mas neste meio, nessa possibilidade de
continuar falando. A aquarela cercada com esse desabafo ficou boa,
funciona, pode ser que fique assim. Amigos: Regina Menezes Del Pilar Sallum Iriana Vezzani Zé de Rocha Branca Bittencourt Valdete Vazzoler Lina Menezes Edna Mara Ferreira termino o texto conforme prometido, grato pela leitura e carinho...bj. f.a.
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