terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

APAGAR AS PALAVRAS

APAGAR AS PALAVRAS. Até hoje me surpreende visualizar esta frase escrita na tela, tanto que a apaguei, mas continuo lendo-a, como agora nessa manha, enquanto escrevo-desenho. Escrevo ao redor de uma aquarela de cinco anos atrás, como que para acorda-la. Por fim a caneta penetra nas cores transparentes da aquarela e reconfigura a imagem. O que é esta quantidade enorme de palavras com as quais encho páginas e paginas de cadernos, sem tirar tempo para relê-las? (de repente me vem à mente que não reler o próprio texto é não tomar posse dele). É uma profusão que se torna quase uma mudez. Sim, mudez em boca cheia de palavras. É um estranho enigma: de um lado, as palavras me sobram, (daí a frase “apagar as palavras” de quinze anos atrás), do outro, elas me faltam; no final, vejo que elas não me levam ao entendimento. Mas entendimento, esclarecimento são palavras caras. Que sabemos das coisas? Atribuímos às coisas mistérios e queremos pelas palavras desvendá-los, mas elas nos enredam e nos levam a outros mistérios. O entendimento que as palavras nos proporcionam é apenas uma parte do seu corpo a outra é a poesia, a sonoridade, a música, a embriaguez. Sim, embriaguez, devaneios, sonhos e, as pequenas réstias de luz, de entendimento que elas nos oferecem são apenas para tomarmos consciência desse sonho, da poesia e desfrutá-la enquanto seres humanos e através dela nos humanizarmos, pois, como disse o poeta é “poeticamente que o homem a terra”. (Hölderlin) Vivo com esse dilema: falar para descobrir, para encontrar, para esclarecer, para me curar de algo que se dá pela fala, e mais do que tudo isso, para me salvar, para se animar.... Imagino que se eu trocasse com alguém, como Freud escreveu a Fliess, poderia encontrar alguma absolvição; descobriria talvez o sentido. Mas como tirar a trava do próprio olho? Lembro-me de uma amiga amazonense Edilamar que conheci em São Paulo e com quem troquei longas cartas (de dez, quinze paginas! Por onde ela andará?). Recentemente achei uma dessas cartas dela em uma gaveta e pensei em desenhá-la. Outra via para sair do embotamento desta manha, ligar para os amigos, ir a Curitiba, Maringá... encontra-los. Vários nomes me veem à mente: Regina, Juliana , Cleuber, Piau, Fátima, Maria, Edna, Sandro, Ana Claudia, Paolo, Dulce, Tania, Iriana. Novamente eu me pergunto pra que desenhar, pra que escrever, para que? De repente, acredito em algo, nessa potencialidade, nessa possibilidade de dizer as coisas, de dar forma sem forma - não na mensagem - mas neste meio, nessa possibilidade de continuar falando. A aquarela cercada com esse desabafo ficou boa, funciona, pode ser que fique assim. Amigos: Regina Menezes Del Pilar Sallum Iriana Vezzani Zé de Rocha Branca Bittencourt Valdete Vazzoler Lina Menezes Edna Mara Ferreira termino o texto conforme prometido, grato pela leitura e carinho...bj. f.a.

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