terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A TRAMA DA REDE

6 - A TRAMA DA REDE. Todos dormem, os pássaros não, eu os escuto, os esqueço, vou para onde não estou e volto aqui. Os pássaros, os grilos me trazem para onde estou. Escutar é um exercício do aqui agora. Nesse exercício de ir e vir as horas passam. Será um lugar? Encontro uma trama desenhada em aquarela com a frase embaixo: “para você continuar”, mas decido continua-la eu mesmo, sem me importar que a ache “fraca”, feia, que não seja um desenho que eu gostaria que fosse. Na verdade nenhum desenho é o que eu gostaria que fosse nesta manha calma e fresca de Londrina. Poderia até chama-la de bela, mas como fazer isso se estou no gostaria? Se nada me basta? Faço a pergunta: o que me bastaria? Olho a página e quero falar, conversar, estar com alguém e encontrar, de alguma forma algo de prazer. Olho a rede desenhada e quero uma obra definitiva. Acredito que tal obra me daria este alento, mas este “definitivo” também passa pelo outro, pela comunicação, pelo encontro, pelo abraço, pela comunhão. Como fala Tom Zé, ele como artista tem um patrão e este patrão é público (ainda que muitas vezes ele contrarie esse patrão). Desenho mais uma folha solta que pode estar aqui, acolá, em qualquer lugar sem ninguém para amá-la... mas, em algum ponto, no fundo, no fundo, algo me diz que este amor está aqui. Mesmo que eu não releia, nem corrija o que escrevo, nem volte para amar estas folhas soltas e me pergunte: “desenhar esta trama para quê?” Pergunto, mas desenhando, o desenho, a rede é uma questão. A resposta não vem de outro modo. Faço a pergunta para me entender, para falar comigo mesmo e com você. Mas ela, a pergunta está no próprio desenho e, o desenho é o questionamento fundamental e também a resposta possível. Querer clareza é a angústia vital que leva a outro desenho (pintura ou texto), sendo ele mesmo clarão e obscuridade, clarão que se revela sobre um instante e obscuridade que aponta o passo seguinte. A ideia era você completar este desenho, mas na sua ausência, ou na sua presença em mim, lá vou eu fazendo o seu papel, nosso papel, continuo a trama, a rede, penso que concluindo-o como acho que que gostaria que fosse, não será melhor do que como está agora (mesmo porque o “gostaria que fosse” não existe, não está em lugar nenhum a não ser no desejo). Uma trama se sobrepõe a outra, dois tempos, o desenho ganha profundidade, fecha-se a Gestalt. Sorrio surpreso e com prazer. Diria que é um bom desenho. O acabado e o inacabado se equivalem, ou melhor, para dizer com Manoel de Barros “ a maior fortuna do homem é sua incompletude, nesse ponto eu sou abastado”
Branca Bittencourt obrigado pelo seu alô, pela linda imagem, fico feliz em saber do ingreso da sua filha na Eba, lembro-me dos desenho dela e da garra e ma faz lembrar também do tempo que estudei e lecionei em bh. Iriana Vezzani Regina MenezesCarlos Madureira Soraia Carvalho Valdete Vazzoler Maria Radicce Maria Isaura Barbosa Antunes Dani Acioli Zé de Rocha Lina Menezes Marcia Zoé Ramos Hélia Márcia e tantos outros, voces são os outros comigo de que falo no texto.
 
 



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