terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

ALEGRIA

ALEGRIA E SOFRIMENTO - Em um muro frente ao meu atelier alguém pichou “vivi pouco sofri muito”. Esta frase aparece em outros muros do bairro, certamente do mesmo autor. Mas hoje me detenho mais nela do que no outros dias. Cai uma chuva forte com raios próximos e trovões ensurdecedores. A atmosfera se torna cinzenta, perigosa e bela. Quem a escreveu é certamente um pessoa de meia idade e anda por aí e está vivo, no entanto escreve como morto, escreve um epitáfio. Seria esta frase que ele escolheria para sua lápide? Que efeito ele está querendo produzir e o que este texto nos muros produz nele? Vou para os meus textos: Não vivi grandes sofrimentos, nem passei por dores lancinantes. Olhando em retrospecto, vejo que tornei maiores muitos dos meus sofrimentos e criei, quase voluntariamente diversos deles, movido por um querer mais e por entrar em brigas e disputas que não eram minhas, (como reconhecer este lugar?) Sei que trata-se de temperamento, que trago geneticamente certa predisposição para o fogo, que o ambiente tem sua participação e que o meu ego completa esta estrutura ou quadro. Mas gostaria de dizer algo diferente, gostaria de dizer que aprendi algo com e sobre o sofrimento: aprendi que posso construi-lo e que também posso destrui-lo, ou pelo menos, não construi-lo em muitos momentos. A via régia para isso, e que vem do zen, é o desapego, é a freada no querer o que não pode carregar, é conseguir estar no presente e no que ele oferece. A psicanálise apoia, via Freud ao escrever que a felicidade consiste mais em evitar sofrimentos do que realizar todos os nossos desejos. Olho o texto do muro e não o enfrento, depois do que já sofri (laser nos olhos, distancia dos filhos, morte do pai, de irmãos, perda de amigos e incertezas diversas..) vejo que sofrimento e alegria se equilibram e que posso viver, de alguma forma alegria em todos os momentos da vida. Isso não significa mar de rosas, ausência de dor ou de dificuldades, mas um ponto de vista, uma disposição, uma atitude. Posso me dispor à alegria e ao entusiasmo e colocar esse direcionamento em meus passos. Assim escrevo este texto, afinal a alegria é a prova dos nove.
Edna Mara Ferreira, Sandra Makowiecky, Branca Bittencourt, Wlater Ornela Fernandes e outros, obrigado pelo contato

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