ALEGRIA
E SOFRIMENTO - Em um muro frente ao meu atelier alguém pichou “vivi
pouco sofri muito”. Esta frase aparece em outros muros do bairro,
certamente do mesmo autor. Mas hoje me detenho mais nela do que no
outros dias. Cai uma chuva forte com raios próximos e trovões
ensurdecedores. A atmosfera se torna cinzenta, perigosa e bela. Quem a
escreveu é certamente um pessoa de meia idade e anda por
aí e está vivo, no entanto escreve como morto, escreve um epitáfio.
Seria esta frase que ele escolheria para sua lápide? Que efeito ele está
querendo produzir e o que este texto nos muros produz nele? Vou para os
meus textos: Não vivi grandes sofrimentos, nem passei por dores
lancinantes. Olhando em retrospecto, vejo que tornei maiores muitos dos
meus sofrimentos e criei, quase voluntariamente diversos deles, movido
por um querer mais e por entrar em brigas e disputas que não eram
minhas, (como reconhecer este lugar?) Sei que trata-se de temperamento,
que trago geneticamente certa predisposição para o fogo, que o ambiente
tem sua participação e que o meu ego completa esta estrutura ou
quadro. Mas gostaria de dizer algo diferente, gostaria de dizer que
aprendi algo com e sobre o sofrimento: aprendi que posso construi-lo e
que também posso destrui-lo, ou pelo menos, não construi-lo em muitos
momentos. A via régia para isso, e que vem do zen, é o desapego, é a
freada no querer o que não pode carregar, é conseguir estar no presente e
no que ele oferece. A psicanálise apoia, via Freud ao escrever que a
felicidade consiste mais em evitar sofrimentos do que realizar todos os
nossos desejos. Olho o texto do muro e não o enfrento, depois do que já
sofri (laser nos olhos, distancia dos filhos, morte do pai, de irmãos,
perda de amigos e incertezas diversas..) vejo que sofrimento e alegria
se equilibram e que posso viver, de alguma forma alegria em todos os
momentos da vida. Isso não significa mar de rosas, ausência de dor ou
de dificuldades, mas um ponto de vista, uma disposição, uma atitude.
Posso me dispor à alegria e ao entusiasmo e colocar esse direcionamento
em meus passos. Assim escrevo este texto, afinal a alegria é a prova dos
nove.
Edna Mara Ferreira, Sandra Makowiecky, Branca Bittencourt, Wlater Ornela Fernandes e outros, obrigado pelo contato
Edna Mara Ferreira, Sandra Makowiecky, Branca Bittencourt, Wlater Ornela Fernandes e outros, obrigado pelo contato
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