quarta-feira, 15 de outubro de 2014

QUARTAS OU QUINTAS. Diários Gráficos

QUARTAS OU QUINTAS. Diários Gráficos. Era para ter postado ontem, mas o tempo... ah, o tempo! Machado de Assis dizia, “nós matamos o tempo, mas ele nos enterra.” Na correria das cidades, andar de ônibus coletivo, tornou-se símbolo de perda de tempo, quando não de pobreza. Carro tornou-se o ícone de conforto, de luxo e de riqueza. Aí sim, reside um traço da nossa pobreza. Sabemos como a propaganda, as grandes empresas estão por traz disso... e o que fazer? Contudo eu gostaria de falar aqui de andar de ônibus pela cidade, como quem olha pela janela, ingenuamente ou poeticamente. Encaro a aventura de andar de transporte coletivo, não somente como uma possibilidade de ir de um lugar a outro, mas como possibilidade de encontro com pessoas, com espaços e como uma maneira de olhar a cidade. Comecei a me interessar por esse objeto, ônibus, ainda quando estudante, em Belo Horizonte, nos anos 80. Uma vez, na avenida Afonso pena, à noite, a rua estava escura e eu vi um ônibus, cheio de gente, iluminado por dentro, parado no sinal, depois seguindo, vagarosamente a avenida, como uma caixa de luz ambulante, cheio de janelas, cheio de gente, iluminando os pontos onde a rua era escura e se misturando com as luzes da cidade. Desde então tenho procurado vias de tratar este tema na arte: desenho, fotografia, textos de viagem, aulas de arte. Sim, este é um dos exercícios que sempre proponho aos alunos, invariavelmente, seja calouro ou veterano: andar pela cidade e desenhar em ônibus coletivos, sentado, em pé, o que lhe chamar a atenção, o que se colocar á sua frente com caneta, lápis (podendo também trabalhar com fotografia). A isso se junta os textos associativos, descritivos do processo de trabalho, depoimento do aluno dizendo como se deu em cada seção, o que viu, o que sentiu, o que saiu em termos de imagem. Trata-se de um desafio, de sair de uma zona de conforto e ir para a vida, de prender a ver o cotidiano como elemento substantivo para a criação de imagens. O ensino de desenho, às vezes está associado ao conforto de uma sala de aula tranquila, arejada como se isso devesse ser a norma, como se as dificuldades, os obstáculos fossem contra o aprendizado e à criação. Claro que muitos alunos reclamam, se sentem inadequados dentro dos ônibus desenhando, dizem até que sentem vergonha de estar desenhando ali, como se o ônibus coletivo cheio de gente não fosse lugar para se desenhar!... Ora, qual o lugar para se desenhar? Ai começamos um discussão longa que toca o cotidiano, a criação de imagens, o que queremos exprimir com elas, ou melhor como descobrir imagens, como descobrir ou criar ideias... uma discussão rica, sem dúvida, mas eu comecei esta conversa aqui para falar de fotografia, uma via de olhar a cidade, todavia, como dizia Barthes quando falamos as primeiras palavras não somos mais nós que falamos, mas as palavras, o assunto se desviou e se ampliou, deixo aqui algumas imagens neste cruzamento: desenho fotografia e outras intoxicações, vamos nos falando. Um abraço. Fa. Desenhos: Dalton, André, Mário Margotto, Fernando Augusto Dos Santos , Larissa Godoy, Jessica Pesse, todos caneta bic e ou nanquim, sobre papel. e Fernando Augsuto: Fotografia digital, Vitória, São Paulo-ES, Vitória-ES, Feira de Santana-BA.



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