QUARTAS OU QUINTAS. Diários Gráficos. Era para ter postado ontem, mas o tempo... ah, o
tempo! Machado de Assis dizia, “nós matamos o tempo, mas ele nos
enterra.” Na correria das cidades, andar de ônibus coletivo, tornou-se
símbolo de perda de tempo, quando não de pobreza. Carro tornou-se o
ícone de conforto, de luxo e de riqueza. Aí sim, reside um traço da
nossa pobreza. Sabemos como a propaganda, as grandes empresas estão por
traz disso... e o que fazer? Contudo eu gostaria de falar aqui de andar
de ônibus pela cidade, como quem olha pela janela, ingenuamente ou
poeticamente. Encaro a aventura de andar de transporte coletivo, não
somente como uma possibilidade de ir de um lugar a outro, mas como
possibilidade de encontro com pessoas, com espaços e como uma maneira de
olhar a cidade. Comecei a me interessar por esse objeto, ônibus, ainda
quando estudante, em Belo Horizonte, nos anos 80. Uma vez, na avenida
Afonso pena, à noite, a rua estava escura e eu vi um ônibus, cheio de
gente, iluminado por dentro, parado no sinal, depois seguindo,
vagarosamente a avenida, como uma caixa de luz ambulante, cheio de
janelas, cheio de gente, iluminando os pontos onde a rua era escura e se
misturando com as luzes da cidade. Desde então tenho procurado vias de
tratar este tema na arte: desenho, fotografia, textos de viagem, aulas
de arte. Sim, este é um dos exercícios que sempre proponho aos alunos,
invariavelmente, seja calouro ou veterano: andar pela cidade e desenhar
em ônibus coletivos, sentado, em pé, o que lhe chamar a atenção, o que
se colocar á sua frente com caneta, lápis (podendo também trabalhar com
fotografia). A isso se junta os textos associativos, descritivos do
processo de trabalho, depoimento do aluno dizendo como se deu em cada
seção, o que viu, o que sentiu, o que saiu em termos de imagem. Trata-se
de um desafio, de sair de uma zona de conforto e ir para a vida, de
prender a ver o cotidiano como elemento substantivo para a criação de
imagens. O ensino de desenho, às vezes está associado ao conforto de uma
sala de aula tranquila, arejada como se isso devesse ser a norma, como
se as dificuldades, os obstáculos fossem contra o aprendizado e à
criação. Claro que muitos alunos reclamam, se sentem inadequados dentro
dos ônibus desenhando, dizem até que sentem vergonha de estar desenhando
ali, como se o ônibus coletivo cheio de gente não fosse lugar para se
desenhar!... Ora, qual o lugar para se desenhar? Ai começamos um
discussão longa que toca o cotidiano, a criação de imagens, o que
queremos exprimir com elas, ou melhor como descobrir imagens, como
descobrir ou criar ideias... uma discussão rica, sem dúvida, mas eu
comecei esta conversa aqui para falar de fotografia, uma via de olhar a
cidade, todavia, como dizia Barthes quando falamos as primeiras
palavras não somos mais nós que falamos, mas as palavras, o assunto se
desviou e se ampliou, deixo aqui algumas imagens neste cruzamento:
desenho fotografia e outras intoxicações, vamos nos falando. Um abraço.
Fa. Desenhos: Dalton, André, Mário Margotto, Fernando Augusto Dos Santos , Larissa Godoy, Jessica Pesse,
todos caneta bic e ou nanquim, sobre papel. e Fernando Augsuto:
Fotografia digital, Vitória, São Paulo-ES, Vitória-ES, Feira de
Santana-BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário