quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ARTE E PSICANÁLISE

Arte e psicanalise
Desde o ano passado colaboro, criando imagens, para as crônicas do psicanalista Antonio Carlos que escreve para duas revistas que circulam em Vitória-ES. Trago a crônica e imagem desta semana. Aquarela, nanquim, sobre papel, 32x22cm.
SE FAZER
O “se”, aqui, não tem o sentido das várias possibilidades morfológicas, nem mesmo a privilegiada conotação condicional: se você fizesse isso... Na verdade, você “se” faz isso! Isto é, essa pequena palavra expressa também uma condição subjetiva muito comum a todos nós, uma atividade passiva de se fazer alguma coisa.
As pessoas que nos procuram em nossos consultórios se queixam de seus problemas, desconhecendo que estes, apesar da parte que cabe aos outros, são arranjados por elas mesmas; elas se fazem, diríamos, problemáticas. Sobre isso, Freud se expressava mais ou menos assim: “O masoquista sempre coloca a cara onde possa receber um tapa”.
Somos todos, em alguma parte, masoquistas. Uns mais, outros menos. Em algum lugar, nem que seja por um pequeno devaneio, já sentimos pena de nós mesmos. Nesse sentido, numa certa divisão subjetiva, nos fazemos de vítimas sob a fantasia do olhar de um outro. Um olhar de compaixão em causa própria. O problema está quando permanecemos nesse estado, exigindo do mundo e das pessoas a reparação por um dano sofrido, por uma sensação de que nunca fomos amados suficientemente bem.
Então... Essa atividade passiva, se fazer ou me fazer, muda a lógica da causalidade e do efeito, onde de vítimas passamos a algozes de nós mesmos. Deveríamos mudar essa lógica, bem assim: do “Eu fico sempre doente” para “Eu me faço sempre doente”; “Eu estou sempre endividado” para “Eu me faço endividar”; “Eu não consigo passar em nenhuma prova” para “Eu me faço reprovar”; “Eu não consigo arrumar um namorado” para “Eu me faço ficar sozinha” etc.
Enquanto não invertermos a lógica da atividade passiva, continuaremos a ser vítima do destino, permanecendo numa reivindicação sentida de que a vida nos deve alguma coisa. Posição confortável, maneira justificável de se fazer mal sem se responsabilizar.


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