terça-feira, 28 de abril de 2015

LIVRO DE ESPERA



Não há espera que não termine. Por três vezes pensei haver terminado, por três vezes retornei a desenhar - como se fosse o primeiro momento - e assim, poderia ter continuado, mas, paro por aqui, para te enviar, te enviar estas linhas, estes espaços, este livro de espera para que tu o continue.'

Desenhos de espera. Como esperar algo? As vezes pensamos a espera como perda de tempo, por isso, muitas vezes atravessamos estes esses momentos de maneira passiva, quando não contrariados. É comum ouvirmos alguém dizer que não gosta de esperar. Quem gosta? Por outro lado há aqueles que gostam de se fazer esperar e até a usam como uma forma de poder. Mas isso é outra história, o assunto que quero tratar aqui é um outro tipo de espera, a espera constituída, assumida e por conseguinte ativa, aquela que você utiliza como forma de estar em um lugar, para sentir, pensar, ver, perceber, se energizar, criar, etc.

Esperar faz parte das nossas vidas desde quando nascemos, aliás, antes de nascer somos esperados. Então, como tratar os tantos momentos de espera que constituímos e que nos constituem? Só de falar isso vejo, de relance, uns tantos momentos de espera que me circundam... Espera em bancos, no trânsito, no supermercado, no restaurante, espera para encontrar alguém, espera até para deixar alguém falar... Agora mesmo estou esperando meu filho na aula de musicoterapia. É...  Acho que esse é um assunto do qual muito se poder falar e fazer.

Esses dias fiquei a esperar os poemas que minha colega de residência no Vermont Studio Center Beth Seetch, ficou de me enviar. E como já disse aqui, assim que ela disse que ia me enviar alguns poemas, comecei a desenhar essa espera. Vários dias, vários momentos, sentindo essa espera, vários dias e momentos desenhando esta espera. Hoje terminei o que chamei "Livro de espera." Um livro artesanal, de páginas sanfonadas, condicionado em caixa de madeira com linhas a carvão, letras decadray e espaços brancos; um livro para ser continuado. Ao colocá-lo no correio escrevo a minha amiga:

"Não há espera que não tem fim. Por três vezes pensei haver terminado, por três vezes retornei a desenhar - como se fosse o primeiro momento - e assim poderia ter continuado, mas, paro por aqui, para te enviar, te enviar estas linhas, estes espaços, este livro de espeta para que tu o continue.'

Aos que acompanharam até aqui meu agradecimento e abraço, torço para que tenha valido a espera.


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