Chove. A chuva na Bahia é sempre
alegria. E quando ela cai assim, devagar, batendo, gota a gota nas latas velhas
do quintal, eu a escuto como música, sem igual. São pingos e pingos de
diferentes tonalidades que hora acelera como um "allegro" e hora
explode como uma enxurrada. Tomo tempo para escutar essa chuva. O dia amanhece.
O céu azul ultramar profundo, como gosto de pintar, clareia. Faço a minha
primeira fotografia do dia e penso as minhas primeiras palavras.
Cidade quente, onde vivi minha
infância. Quando menino, tomava banho de chuva pelado na rua, debaixo de bicas
e correndo nas cachoeiras que se formavam na ladeira. Não raramente, esse banho
de chuva se estendia até o grande rio que corta cidade. Fiz isso até ficar
grandinho, até começar ouvir observações de que eu estava grande para tomar
banho pelado assim; este foi um dos meus primeiros sentimentos de vergonha.
Cresci com o sentimento de querer
ir embora desta cidade, de fazer a minha vida grande, de conhecer outros
espaços; o que eu não sabia é que esse sentimento de vergonha e outros a ele
ligados, esperariam por mim em quase todos os lugares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário