sexta-feira, 3 de abril de 2015

UM SENTIMENTO QUE ESTARIA ESPERANDO POR MIM EM QUASE TODOS OS LUGARES



Chove. A chuva na Bahia é sempre alegria. E quando ela cai assim, devagar, batendo, gota a gota nas latas velhas do quintal, eu a escuto como música, sem igual. São pingos e pingos de diferentes tonalidades que hora acelera como um "allegro" e hora explode como uma enxurrada. Tomo tempo para escutar essa chuva. O dia amanhece. O céu azul ultramar profundo, como gosto de pintar, clareia. Faço a minha primeira fotografia do dia e penso as minhas primeiras palavras.
Cidade quente, onde vivi minha infância. Quando menino, tomava banho de chuva pelado na rua, debaixo de bicas e correndo nas cachoeiras que se formavam na ladeira. Não raramente, esse banho de chuva se estendia até o grande rio que corta cidade. Fiz isso até ficar grandinho, até começar ouvir observações de que eu estava grande para tomar banho pelado assim; este foi um dos meus primeiros sentimentos de vergonha.
Cresci com o sentimento de querer ir embora desta cidade, de fazer a minha vida grande, de conhecer outros espaços; o que eu não sabia é que esse sentimento de vergonha e outros a ele ligados, esperariam por mim em quase todos os lugares.


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