domingo, 22 de março de 2015

DESENHOS LEVES ou para esquecer o peso, ou até esse ponto



Ter vários títulos, não é um boa maneira de começar um texto, mas é certamente uma tradução desta Manhã vazia. Olho alguns desenhos leves. Manuseio os entre os dedos, olhando-os de lado, de ponta cabeça, na horizontal, na vertical. Curto essas linhas que me trazem um corpo bonito e que assim, habita essa manhã vazia. Que desejava eu ao fazer esses desenhos? Que desejo, que sei agora que os observo? Quais os pontos de coincidência entre esses dois momentos? Entre a mão e olhar? Entre o fazer e o ver? Chamo-os de desenhos leves, talvez por não ver neles uma intensidade da arte, por não ver neles o peso de tudo o que gostaria de dizer... Lembro-me de um texto de Richard Serra, onde ele escreve que, tudo o que ele tem a falar em arte é sobre o peso. Peso que ele conheceu na infância quando viu um navio recém construído ser empurrado do estaleiro para o mar. Então, ele viu, ao entrar na água, aquele bicho pesadíssimo, massudo, com centenas de toneladas, flutuar, parece perder o peso e deslizar sobre as águas como se fosse leve. Acho que é essa a imagem que fica quando vemos um navio deslizando no mar, esquecemos do peso, fica a leveza, fica o navegar.

Ocorre me ter visto em Janeiro, no Metropolitan, um desenho do Serra de uma simplicidade e leveza e intensidade admiráveis! Acho que cheguei a perguntar como ele fez isso, mas estava tudo ali, eu Via como ele fez, simplesmente pegou um retângulo e colocou em perspectiva, perpendicular ao retângulo do papel, à carvão, tinha até as marcas dos dedos no papel. Então mudei a pergunta: como ele chegou até esse ponto? Não me apressei a responder, fiquei desenhando em pensamento, partir dele, até esse ponto: ...

Aos teimosos que me leram até este ponto de reticências, obrigado pela atenção, desculpem me os erros e bom final de semana. Deixo dois "desenhos leves", nanquim, bico de pena sobre papel, dimensões 25x35cm, 2015


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