quinta-feira, 5 de março de 2015

TEMPO TEMPO TEMPO



Aqui estou com mais um texto longo para Facebook, mas, aos teimosos e pacientes que tem me provocado, vamos lá. Para começar, Estou me perguntando se continuarei escrevendo textos longos no Facebook como fiz esses dias no Vermont Studio center -USA - acredito que não (será q faz sentido?) é uma tarefa difícil, mas antes de ir para o VSC e de tê-la realizado, eu teria dito que seria impossível escrever assim. Agora reflito, partir de uma questão posta por uma leitora: o que me inspira a escrever? Para respondê-la eu precisaria passar em revista esse tempo de residência artística e encontrar certos pontos e fios da meada.

 Dois pontos me vem à mente: tempo e motivação. Tempo, ter tempo para isso. Vivemos numa correria, com o tempo tão dividido, como então escrever? Se deter na experiência cotidiana? Certa vez dei um curso de desenho em um festival de arte em Porto Alegre e em um desses momentos reflexivos falei com os alunos que a coisa que mais me angustiava, me dava medo, era o tempo. Mas eu dizia isso me referindo à finitude e ao vazio. Primeiro a questão da morte, da passagem. Como diz Machado de Assis, o tempo nos enterra. Somos grãos de poeira no universo e nós queremos mais, nos apegamos a isso. Depois, o vazio que dá quando temos tempo e não sabemos o que fazer nele, com ele. Essa residência artística poderia sofrer isso, eu poderia estar lá para 'isso', mas ao mesmo tempo não estar. 'Isso' já me aconteceu tantas vezes! Não é à toa que falamos tanto de preencher o tempo! Na ocasião o alunos de Porto Alegre me deram de presente uma pequena ampulheta, que Guardo até hoje, mais de 20 anos! As vezes olho aquela areiazinha caindo me perguntando o que é o tempo e como lidar com ele.

Nesta residência em Vermont, vivi de maneira plena a experiência de ter tempo! Ter todo o tempo do mundo para exercer a 'arte de se trancar dentro do quarto' como diz Proust. Lembro-me que a primeira vez que senti isso, foi em um retiro no Mosteiro Zen budista de Ibiraçu - ES.

 De volta à Vitória, ainda meio ar retomo minha vida cotidiana. Levo o filhote à fisioterapia. (É quando começo a escrever esse texto) Na saída, vem uma mãe trazendo o filho de seis anos com autismo severo, ele grita, se bate...vejo cinco minutos de luta dolorosa! Fico sabendo que esse menino se tornou assim quando, tomou a vacina tríplice. Teve quinze dias de febre, perdeu a fala e agora se bate. E tem muita gente que fala que as vacinas, do jeito como são dadas não causa autismo. Descemos a escada do prédio no escuro. O tempo está fresco, procuro andar com tranquilidade. Passo em uma casa de câmbio para saber à quantas anda o dólar. O real mais desvalorizado, onde vamos parar? O cambista me oferece um café, aceito, na mesa dele vejo um revólver, que isso? Para que esse 38? Para matar bandido! Mas você deixa vazio o primeiro cartucho né, pode acontecer acidentes?! Está cheio, acontece acidente com quem não sabe usar arma! Café ruim. Só tomo um gole. Saímos. No posto, coloco gasolina no carro, vou pagar com cartão, êpa! esqueci a senha, preciso ir ao banco verificar isso. No carro meu filho pega no meu ombro e fala: você demorou muito nos Estados Unidos, não quero que você fique mais longe de mim. Sorrimos um para o outro. Voltei e aqui estou escrevendo, tentarei manter o pique. Ah, Ficou faltando o segundo ponto, a motivação, mas deixo para falar dele no sábado, ok? Aos teimosos que me seguiram até aqui, meu abraço, desculpem me os erros, pequenos e grandes, tento evitá-los, Mas eles sempre me escapam. FA

 Deixo dois desenhos- modelo vivo, com mesma pose, um carvão sobre papel, o outro técnica mista, com cores vivas. Dimensões 40x70cm.


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