segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

AS ULTIMAS TELAS



Aqui estou eu com mais um texto longo para Facebook, mas aos que tiverem tempo e interesse, vamos lá. Ontem, ao sair do atelier, uma hora da manhã, sozinho no meio da rua fria, ouvi o som do vento que costuma vir da floresta nas noites de inverno aqui em Jonhson. Era a Segunda vez que escutava esse som, mas desta vez fiquei parado ouvindo ou melhor esperando, porque ele veio até a mim e, não veio sozinho. Olhei a rua até ela se perder na floresta e lá estava o vento, no escuro, vindo para a luz. Senti que ele estava vindo e vi. Ele carregava neve e a jogava a na rua, distribuía. A princípio, era uma espécie de nuvem, redemoinho, mas aos poucos vi os pontos brancos que chegavam animados pela boca do vento, desenhando linhas a minha frente. Assisti ao começo da neve! Foi incrível! Então ela se pôs a cair ao meu redor, foi questão de segundos e eu fiquei dentro dela, quieto, envolvido por milhares de pontos, como num desenho bem pequeno no meio de uma folha branca, e, senti aquela sensação gostosa de estar no espaço, de ser também um ponto no espaço.

Você deve estar se perguntando o que tem a ver o título desse texto acima As Ultimas telas com a neve caindo, como acabei de descrever. A princípio, nada mas no fim tem tudo ver. É que, esta é a última semana de residência aqui no Vermont Studio Center e, a sensação de fazer algo pela última vez é parecida com a da primeira. Hoje pintei talvez a última tela à óleo que poderia pintar aqui. Vontade tenho de pintar outras, mas não haverá tempo para secar. Então daqui para frente só desenhos e, começar a arrumar as coisas.

Voltei a pintar óleo, depois de anos esperando, me perguntado como fazê-lo. Aqui descobri um meio que certamente vou levar à frente. Comecei a trabalhar com a tinta bem diluída com linhaça e querosene, usando tanto o pincel para aplicar a tinta, quanto guardanapos de papel para limpar, e, neste caso, o limpar também passou a fazer parte da construção da imagem. Limpar tem a ver com erro, com insatisfação, com tentativa, por conseguinte com a teimosa. Trata- de um fazer de novo que, deixa ver rastro, que revela uma certa incerteza, que olha para trás e vê seu próprio rastro torto e tenta se acertar. Portanto, pintei "tateando". Com a tinta bem diluída me aproximei dos procedimentos do desenho, pude usar o carvão, o pastel e o efeito de aguada, que gosto muito e, assim, trabalhar rápido e também criar camadas. Pude ter controle da coisa até um certo ponto e permitir o descontrole em outros pontos; me senti livre para tentar, errar, passar o papel por cima, manchar, criando assim uma espécie de palimpsesto invertido, onde as camadas dos processos são também mensagem.

 Assim entro na casa, que Dulce Osinski chamou do passado e do presente e me surpreendo, descubro imagens diversas do que esperavam enfim, chego a um lugar não conhecido, talvez porque como diz o tão, para se chegar a um lugar não desconhecido devemos trilhar caminhos não conhecidos. Deixo algumas pinturas para vocês verem. Agradeço aos teimosos que seguiram este texto aqui. Desculpem os erros, não dá para passar o pano aqui... Rsrsr...  São todas pintura á óleo, dimensões aproximadas: 50x70cm. Um grande abraço!!! FA


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