Aqui estou eu com mais um texto
longo para Facebook, mas aos que tiverem tempo e interesse, vamos lá. Ontem, ao
sair do atelier, uma hora da manhã, sozinho no meio da rua fria, ouvi o som do
vento que costuma vir da floresta nas noites de inverno aqui em Jonhson. Era a
Segunda vez que escutava esse som, mas desta vez fiquei parado ouvindo ou
melhor esperando, porque ele veio até a mim e, não veio sozinho. Olhei a rua
até ela se perder na floresta e lá estava o vento, no escuro, vindo para a luz.
Senti que ele estava vindo e vi. Ele carregava neve e a jogava a na rua, distribuía.
A princípio, era uma espécie de nuvem, redemoinho, mas aos poucos vi os pontos
brancos que chegavam animados pela boca do vento, desenhando linhas a minha
frente. Assisti ao começo da neve! Foi incrível! Então ela se pôs a cair ao meu
redor, foi questão de segundos e eu fiquei dentro dela, quieto, envolvido por
milhares de pontos, como num desenho bem pequeno no meio de uma folha branca,
e, senti aquela sensação gostosa de estar no espaço, de ser também um ponto no
espaço.
Você deve estar se perguntando o
que tem a ver o título desse texto acima As Ultimas telas com a neve caindo,
como acabei de descrever. A princípio, nada mas no fim tem tudo ver. É que,
esta é a última semana de residência aqui no Vermont Studio Center e, a
sensação de fazer algo pela última vez é parecida com a da primeira. Hoje
pintei talvez a última tela à óleo que poderia pintar aqui. Vontade tenho de
pintar outras, mas não haverá tempo para secar. Então daqui para frente só
desenhos e, começar a arrumar as coisas.
Voltei a pintar óleo, depois de
anos esperando, me perguntado como fazê-lo. Aqui descobri um meio que
certamente vou levar à frente. Comecei a trabalhar com a tinta bem diluída com linhaça
e querosene, usando tanto o pincel para aplicar a tinta, quanto guardanapos de
papel para limpar, e, neste caso, o limpar também passou a fazer parte da
construção da imagem. Limpar tem a ver com erro, com insatisfação, com
tentativa, por conseguinte com a teimosa. Trata- de um fazer de novo que, deixa
ver rastro, que revela uma certa incerteza, que olha para trás e vê seu próprio
rastro torto e tenta se acertar. Portanto, pintei "tateando". Com a
tinta bem diluída me aproximei dos procedimentos do desenho, pude usar o
carvão, o pastel e o efeito de aguada, que gosto muito e, assim, trabalhar
rápido e também criar camadas. Pude ter controle da coisa até um certo ponto e
permitir o descontrole em outros pontos; me senti livre para tentar, errar,
passar o papel por cima, manchar, criando assim uma espécie de palimpsesto
invertido, onde as camadas dos processos são também mensagem.
Assim entro na casa, que Dulce Osinski chamou
do passado e do presente e me surpreendo, descubro imagens diversas do que
esperavam enfim, chego a um lugar não conhecido, talvez porque como diz o tão,
para se chegar a um lugar não desconhecido devemos trilhar caminhos não
conhecidos. Deixo algumas pinturas para vocês verem. Agradeço aos teimosos que
seguiram este texto aqui. Desculpem os erros, não dá para passar o pano aqui...
Rsrsr... São todas pintura á óleo,
dimensões aproximadas: 50x70cm. Um grande abraço!!! FA
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