terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NUNCA DESENHEI PAISAGENS MAS É COMO SE AS TIVESSE DESENHADO



Aqui vou eu com mais um texto longo demais para face book, mas aos que tiverem paciência, vamos lá. Em 2012 embarquei em um navio hospital da Marinha Brasileira para uma viagem que ao todo durou 20 dias, pela Amazônia, com o propósito de ver, de descobrir e desenhar os diversos cenários daquela paisagem. O resultado desta viagem está nos dois pequenos livros publicados recentemente: "Viajamos para viver" "A Invenção da paisagem". Mas o que eu gostaria de dizer aqui que até então eu nunca havia desenhado paisagem. Embarquei naquele navio, como descrevo no livro me perguntando "o que desenhar? Como desenhar? Gostaria de dar um passo à frente, mas vou um pouco atrás. Lanço mão de uma via tradicional, o desenho de observação ao natural, esquecendo-me da minha pintura e desenho individual (...) vem-me à mente que observar paisagem é observar algo além de mim, é sair de mim mesmo para ver algo bem maior e mais forte do que eu" ... A natureza. Esta viagem marcou a minha descoberta da paisagem, que continua em até hoje, pois Vim para esta residência com intuito de desenvolver e aprofundar a série: "A Casa do passado" e de entrar nesta casa. Com efeito estou fazendo isso, abrindo portas, entrando nos espaços desta casa, deixando a luz entrar pela janela e iluminar seus vãos, minha expectativa é a de que, entrando na casa poderei colocar nela todo meu pensamento de arte, todas as diferentes formas e séries que faço. Mas neste movimento redescubro a paisagem, ou melhor estas paisagens - distantes, misteriosas, como me disse Dwan, escritora residente neste momento no Vermont. Enveredo por elas com encantamento, talvez a mesma impressão que muitos de vocês tiveram, quando viram o desenho postado ontem, conforme me comentaram.

Quando terminei aquele desenho eu sorri, entre espantado e admirado, e quase perguntei, como fiz isso? Quis escrever um post naquele, mesmo instante, a fim de conversar com vocês, mas estava por demais envolvido, por demais contente com o trabalho, de maneira que preferi sorrir. Pois, como lembra Tom Zé elogio em boca própria é vitupério.

Nunca desenhei paisagens, mas é com se sempre as tivesse desenhado. Digo isso, lembrando-me de Fernando Pessoa, O Guardador de rebanhos: "Nunca guardei rebanhos, / mas é como se os guardasse. / Minha alma é como um pastor, / conhece o vento e o sol, / e anda pela mão das estações/ a seguir e a olhar. /Toda a paz da natureza sem gente / vem sentar-se ao meu lado" Lindo não é mesmo? Repitam comigo: nunca guardei rebanhos, mas é como se os tivesse guardado... Silêncio... tem poesia nesse silencio...

Fico por aqui. Grande abraço a todos que me seguiram com paciência e benevolência. Deixo aqui segundo desenho desta série que, será exposta em maio na galeria Via Thorey, desde já, estão convidados. Boa noite. Voa noite.


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