Aqui estou eu com mais um texto
grande demais para face book, mas para quem tiver paciência e interesse, vamos
lá. Noite, não adianta ir para cama cedo pois sei que não vou dormir. No
lounge, em torno da lareira reúne um grupo de jovens, a maioria escritores,
hoje tivemos noite de leitura de textos, extratos do que eles estão escrevendo
aqui. Escutei paciente, mesmo sem entender bulhufas, inglês literário e falado
depressa. Vou para o atelier. Não encontro vivalma na rua. Mas não estou
sozinho, de longe o amor me abraça. No atelier, olho uma tela começada, o
interior de uma casa com umas formas estranhas. Será este o interior da
"Casa do passado" que tanto tenho falado? Quem olhar de fora dirá que
não tem nada a ver. Espera-se uma espécie de continuação, uma ressonância entre
o dentro e o fora, inclusive para que eles se pertençam. Mas o interior pode ser
tão diverso! Então, olho para a tela em processo, com seu desenho de interior tão
diferente do que cheguei a imaginar! Deixo assim ou enveredo para os tons
escuros esperados? Eu tinha prometido a mim mesmo coerência formal, e queria
entrar na casa escura, que eu creditava escura, mas ela se mostra aqui, clara
e, é intimamente ligada a minha série "A parelhos". Começo a sessão
com essa questão vou por este caminho, ou por aquele? Lembro me do artista
Paulo Whitaker que uma vez me disse que quando um trabalho dele sia bom, le
deixava aquela pintura trabalhar para ele. Sabia conclusão, deixa o trabalho
desdobrar-se. Amilcar de Castro fez isso a vida toda, como me disse certa vez
em entrevista: "meu trabalho é a mesma coisa, sempre, a mesma cosa, o
mesmo rigor, a mesma busca, mas cada um é novo!" Eu já sou cheio de
dúvidas, e por isso mesmo adoto um outro método, se gosto de um trabalho no
meio do processo, deixo naquele ponto e faço outro seguindo o mesmo caminho, ainda
em andamento, ultrapasso aquele ponto para ver onde vai chegar. Assim entro na
casa do passado.
No almoço tenho um contratempo.
Uma artista residente aqui, em um brinde derramou vinho em meu celular, agora
ele está irrecuperavelmente bêbado, e a ressaca não passa, não acessa mais
internet, depois descubro que meu iPad também não está carregando. Vem me uma
sombra de tristeza, como continuar com esses textos? Lembro me do amigo
fotografo espanhol amazonense, quando da minha viagem a Amazônia para desenhar
e fotografar ele me perguntou que equipamento fotográfico eu levara no navio,
eu respondi que apenas minha câmara digital, carregador etc. Ai ele falou que
sempre levava junto sua câmara analógica com filmes, explicou, vai que dá algum
problema com o equipamento digital naquelas brenhas! Ē isso, as vezes depositamos
nossa confiança nas nuvens e ela se vai se evapora o que tínhamos como certo
vira incerteza e angustia.
Angustiado vou ao arts suplies
comprar material, papel tela, turpenoid, etc. Caio na tentação, acho que compro
mais do que deveria. Lembro de uma amiga que veio para os Estados unidos e me
disse que quando estava deprimida, angustiada, ia ao shopping e comprava,
comprava e saia de lá feliz da vida. Será que comprar suprime esse sentimento
de falta?
Volto para o atelier e desenho,
pinto, faço anotações nervosamente, trabalho até cansar. Gasto a energia que o
sol nos dá toda manhã. Olho as telas inacabadas e pergunto: será que desenhar,
pintar, fazer arte suprime esse sentimento de falta?
Uma artista residente aqui no
Vermont Studio Center que pinta céus, paisagens me diz que uma "sky
painter," sorrio e penso que é um caminho feliz o dela, sem dúvida. Acho
bonita a pintura dela, mas Volto para as minhas que, buscam luz e estou
propenso a dizer que sou um pintor de porões. O pior é que não sei o que está lá
e, não tenho esperança de saber, de entender, contudo guardo uma crença ou esperança,
pode se dizer, penso que esta arte é uma forma de resistir à ignorância.
Aos teimosos que vieram comigo até, obrigado
pela atenção e desculpem me alguns erros. É isso aí.
DEIXO Duas pinturas, óleo
e carvão sobre tela, dimensões, aproximadas, 50x70cm.
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