segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

DOMINGO

Volta nevar em Belmont. Pequenos pontos brancos dançando no ar como se o vento fosse a respiração do mundo. Frio lá fora, quente aqui dentro. Não sei avaliar a temperatura dentro /fora. Abro a porta e encontro uma temperatura totalmente da dentro de casa. Quase sempre saio com roupa de menos, porque me balizo pela temperatura de dentro e Então tenho que voltar para colocar mais roupa. Às vezes olhar e ver não ē tudo, é preciso sentir na pele. Desço ao "basement" da casa da minha amiga Luqinha e encontro algumas pinturas e desenhos que deixei enroladas aqui de uma outra passagem minha por Boston, há mais de dez anos (e ela as guardou!). Faço do porão meu atelier e, por algumas horas tenho prazer de encontrar trabalhos antigos. Não sabia onde estavam essas pinturas, mas assim que as vi, as reconheci. Algumas são pinturas-livros de dimensões médias, outras são grande, quase dois metros. Gosto muito das pDiEnStEuNrHaOs, como propôs Gil Vicente (conseguiu ler?), embalo-as (os) para desenvolvê-los em Vermont. Consigo visualizar um livro-desenho com essas pinturas menores, quanto as maiores pergunto-me o que fazer. Como são grandes, exigem um investimento maior, daí a questão: vale? Lembro me do meu amigo Marcelo Silveira que de uns tempos para cá, anda revisitando seus trabalhos antigos, distinguindo os trabalhos "válidos" dos não "válidos" e tomando de volta os que não passam no crivo. No pequeno livro que publiquei ano retrasado "pintura sobre pintura" resolvo essa questão sem metáforas, as pinturas inacabadas, fracassadas, são simplesmente repintadas, atualizadas, torcidas, destruídas ou reinventadas. Trata -se de um método estimulante, pegar uma pintura inacabada, ruim e desenvolve-la. Parto do princípio que se está "ruim, pior não vai ficar". Mas essas pinturas que encontro quatorze anos depois me fazem parar. Não sei avaliá-las. Será que vale a pena levá-las? Há mais de dez anos atrás acreditei nelas, agora tenho dúvidas. Fico entre a cruz e a espada, preservá-las ou destrui-las? Na dúvida opto por esperar. Nada do que é certo em um tempo e lugar tem garantia de sê-lo em outro momento. Fotografo com a luz fraca do porão, as pinturas- desenhos serão trabalhadas esses dias na residência em Vermont. Tentarei dar noticias dela até o final do mês, as outras voltam para o purgatório.
 









 

Nenhum comentário:

Postar um comentário