Aqui vou eu com mais este texto
longo demais para o Facebook, se você tiver paciência, vamos lá, juntamente com
algum desenho da sessão de modelo. Descobri esta expressão: modelo vivo.
Primeiro dia. La esta ele, às
9:00 em ponto, para desenho de modelo vivo. Já disse que desenhar alguém é uma
forma de conviver com esse alguém através do desenho. Lembra? Este mês teremos
aqui dois modelos, um masculino e um feminino para desenho. O que tenho a dizer
trabalhando com modelo vivo? As vezes faço essa pergunta, de novo, e de novo,
pois trata de um mecanismo tão tradicional, acadêmico diria que, ao mesmo tempo
quem atrai alguns artistas e espanta outros tantos e, estes últimos não se
cansam de dizer que isso é acadêmico, que é coisa morta e enterrada. No entanto
está vivo aqui. E para mim é sempre um desafio novo. Assim, tento responder à
pergunta insistente desenhando, desenhando, mas a resposta não está somente lá,
no objeto, sim entre nós, entre o artista e o modelo, então cada desenho é de
novo uma outra pergunta.
Começamos nos apresentando,
dizendo nosso nome e de onde viemos. Ele tira a roupa com gestos lentos como se
fosse ao banho, corpo forte, liso, sem nenhum pelo, nem na cabeça nas partes. Ele
me pergunta se tenho alguma pose ou imagem em mente, respondo que não, que
iremos descobrir na conversa com espaço, com a prática dele de modelo e com os
materiais que eu tenho em mão; são eles um caderno com sessenta folhas (um
desses caderno encorpado, que dão vontade de desenhar nele todo, de cabo a
rabo), nanquim, água, bico de pena, papel toalha.
Combinamos poses de dez minutos
cada. A ideia é desenhar direto sem esboço, pegar esse risco próprio da técnica
do bico de pena, incorporar o erro, concluir algumas imagens na sessão e as que
não derem certo, levar para o segundo momento, que chamo de "momento do
olhar" e aí então, interferir, desenvolver, etc. Desta forma surge a
aguada, o borrão, localizado quase sempre no rosto. Desenho errando, borrando a
folha; com poucas linhas, quando consigo, um desenho mínimo, onde o espaço
branco é tão importante quanto a figura.
Conversamos nos interstícios. Uma
palavra ou outra durante as poses, ele é concentrado e prefere não falar durante
a pose, para não me atrapalhar, mas aceita conversar se eu pergunto alguma
coisa. Assim trocamos uma frase ou outra. Ele é músico, toca guitarra. Já tocou
muito na noite, mas não faz mais isso. Diz que cometeu muitos erros na vida.
Faz gesto com a mão como quem se cansou do que já fez. Agora busca levar uma
viva calma em seu segundo casamento, criar os filhos e fazer sua música sem competição,
sem pressão. Tem uma filha de trinta anos do primeiro relacionamento, mas com
quem pouco fala. Pergunto se ele é religioso, responde que sim, cristão e
acrescenta que todos os dias lê um capítulo da bíblia, assim já a leu toda
várias vezes. Diz que a filha não foi um erro, mas o primeiro casamento foi,
então procura fazer a coisas certa hoje. Não perguntei quais foram realmente
seus erros, fiquei pensando neles e nos meus. Ou melhor, no conceito de certo e
errado e na impossibilidade da sua definição em existência. No entanto digo que
desenho errando. Finalizamos a sessão, perto do meio dia. Steeve vai embora,
nos despedimos com sentimento de amizade. Eu ando pelo studio sozinho voltando
ao silencio da neve que cai lá fora, leve e intensa, criando uma página branca
cheia linhas que como desenhista gosto de ver. Parado diante da janela vejo um
carro todo coberto de neve. No mais quase nada se move a olho visto! o silencio
é grandioso, Foi uma ótima sessão de desenho de desenho, encantadora!
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