Aqui estou com mais um texto longo para Facebook,
mas ao que tiverem paciência e interesse vamos dar um passeio. Olho a paisagem
branca pela janela no atelier do prédio Wolf Kahn, um dos prédios de ateliês
aqui. O branco convida ao silêncio. No Brasil é carnaval. Praticamente não
ligamos televisão. Um outro silêncio, também branco, percorre o grande corredor
que ao fundo, abre para uma pequena passagem que liga a outro prédio com mais
ateliers, uns quinze talvez. As vezes nos visitamos, por alguns minutos, no
mais cada um mergulha no trabalho. Neste sentido, a vida aqui é muito comum, é
vidinha besta como diria Drummond, acordar, ir ao center hall para o café,
depois para o atelier, voltar ao center hall para o almoço (comida sempre
deliciosa ... salmão, camarão, carne vermelha, sempre cogumelos, saladas,
sucos, café e desert: frutas, brawne, sorvete e outras coisas que não sei o
nome), a tarde voltamos para o atelier e a noite também. Vida Comum mesmo, extraordinário
é o que acontece entre as quatro paredes. Proust já dizia que ciar é a arte de
se fechar dentro de quarto.
Ele, fez isso como ninguém! Eu
pela primeira vez experimento um pouco disso. Aqui trancado nesse quarto viajo,
por França Minas e Bahia, como diz uma canção e ainda inventei está de escrever
estes textos, de pouca conta, para conversar comigo mesmo e com vocês teimosos,
que dos seus quartos ou salas participam comigo desta residência no VSC.
Lembro-me de um texto de Victor Hugo, que elogiava a teimosia, dizendo que
diferente da coragem ou da força, que tem apenas um assomo, dizia que a
teimosia tem a virtude de recomeçar sempre, de não se dar por satisfeita e,
tanto no fracasso quanto na conquista, ir de novo ao ponto.
OLHO da janela do atelier e penso
admirado na organização deste programa de residência que existe há quase trinta
anos! Ontem conversei com John, artista septuagenário, um dos fundadores deste
programa. Ele sempre vem almoçar no restaurante do center hall, com a roupa
suja de tinta, alias a maioria chega lá com a roupa suja de tinta, como
trabalhadores, que interrompem o trabalho apenas por alguns instantes para logo
retornar.
Chegam residentes novos, alguns já
foram embora como Ola Aldous, artista russa e Cynthia Dewi Oka, poeta de origem
indonésia e, fazem falta aqui. Vejo um ou outro carro passarem vez por outra um
artista residente. O branco se estende até o sol nos trópicos, para encontrar a
alegria dançante do carnaval, mas neste instante, não penso, como Melissa P. (100
escovadas antes de dormir) que lá fora tem alguém mais feliz do eu. Não, aqui
dentro deste "quarto" acontece o extraordinário.
Este final de semana, comecei a trabalhar à
óleo, era para ter feito isso logo que cheguei aqui, porque o óleo demanda
tempo. Estranha mania de começar as coisas pelo fim! Estou apanhando, talvez
por isso resolvo sair um pouco, para visitar outros atelieres. Depois do almoço
visito os studios de Gretchen Scherer, jovem artista de New York, que faz um
trabalho surpreendente de colagem e de pintura, Marna Shopoff, artista de
Maiami, que trabalha pintura com um viés geométrico, cores puras e transparência
de incrível beleza, Nicolas Ponton, Artista argentino cujo desenho marcado na
pedra lembra o trabalho do brasileiro Marcelo Moscheta, o qual apresento a ele,
Mercedes argentina, pintora de extração hiper-realista e pop que recria cenas
do cotidiano como novo interesse visual e Hoda Kashiha, pintora iraniana, cuja figuração
colorida desconcerta o olhar.
Bem, fico por aqui, curtam as imagens, grande
abraço. Boa noite, voa noite!
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